"Com um grande estrondo o comboio
entrou na estação. A plataforma ficou logo cheia de gente, que ia, arrebatada,
com embrulhos, chapeleiras, acotovelando-se. Saloios com os passos pesados das
suas solas pregueadas, apressavam-se: havia nas faces um ar estremunhado e
pasmado; uma criança chorava desesperadamente, e, quando à porta de saída o
empregado lhe quis ver as malas, Artur, empurrado, atarantado, envergonhado,
não encontrava as chaves. As mãos tremiam-lhe, sentia-se tímido, quase tinha
saudades da casa das tias, da pequenez de Oliveira de Azeméis. E depois, com o
seu bilhete de bagagem, muito embaraçado, quase aflito, errava pela grande sala
de espera, dando aqui e além um olhar aos anúncios, onde se lia em grandes
letras nomes de cidades – Sevilha, Córdova, Madrid, Paris — que lhe
representavam civilizações magníficas e lhe davam um acanhamento maior."
Eça de Queirós
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