sábado, março 23, 2013

Portugal dos pequeninos

"No dia em que mor­reu Óscar Lopes, a pre­ocu­pação maior de parte sig­ni­fica­tiva dos por­tugue­ses foi o fait-divers da con­tratação de José Sócrates como comen­ta­dor político da RTP. Na cos­tumeira «men­sagem de pesar» envi­ada à família do filól­ogo e mestre maior da lín­gua pátria, o dr. Cavaco Silva refere-se-lhe como «his­to­ri­ador», rel­e­gando para segundo plano a sua obra maior como lin­guista, pro­fes­sor e crítico literário. Compreende-se: Óscar Lopes foi autor, com António José Saraiva, da mais impor­tante História da Lit­er­atura Por­tuguesa. Cavaco, com o seu saber wikipédico de leitor de badanas, limitou-se a somar dois mais dois.O país real, tão inculto como quem o dirige, não deu por nada, é claro. A pop­u­laça mais sim­ples, tal como boa parte da restante, anda demasi­ada­mente ocu­pada a exor­cizar os fan­tas­mas dos natais pas­sa­dos e entretém-se a sub­scr­ever «petições» e a orga­ni­zar autos-de-fé con­tra a pre­sença do ex-primeiro min­istro na pan­talha da tele­visão pública.Enquanto isso, Pas­sos, Rel­vas e Gas­par prosseguem ale­gre­mente na senda da destru­ição metódica dos dire­itos con­quis­ta­dos nas últi­mas qua­tro décadas. É mais fácil cul­par o pas­sado do que lutar pela trans­for­mação do pre­sente. Mesmo que, para isso, se con­trariem os princí­pios bási­cos da con­vivên­cia democrática e se atro­pelem os dire­itos ele­mentares dos cidadãos – todos os cidadãos, mesmo aque­les de que não gosta­mos – como é o caso do dire­ito à livre expressão. Porque, ironi­ca­mente, é disso mesmo que se trata. E Sócrates fará decerto menos mal ao país como comen­ta­dor da actu­al­i­dade política do que como seu pro­tag­o­nista. Mas isso, pelos vis­tos, importa pouco.

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