È um homem alto e delicado. Gosta de música clássica e cultiva o gosto por poesia. Além dos seus profundos conhecimentos em oncologia, partilha uma paixão profunda pela investigação e o ensino na área dos cuidados paliativos. Dá aulas numa universidade católica, num país católico, onde a eutanásia é permitida num quadro legal bastante restrito e muito exigente. Passámos horas a discutir o tema da eutanásia e da inevitabilidade da sua "legalização" enquanto direito humano. O direito da liberdade, da dignidade, do não sofrimento, da escolha consciente do fim. Dei por mim a defender apaixonadamente a posição contrária – preservar a vida e a dignidade da pessoa sem obstinação terapêutica, usar todos os meios para reduzir o sofrimento e a dor, mesmo que isso implique indirectamente não prolongar a agonia. Mas nunca, nunca, praticar directamente a eutanásia. E ele pacientemente, aponta-me casos concretos, situações, estatísticas, pessoas. Fala da necessidades que os doentes têm em falar da possibilidade de escolher a sua morte, da paz que isso lhes dá, da coragem com que enfrentam o inevitável por escolha sua, sem serem animais abandonados à agonia prolongada de dias, semanas de sofrimento.
Fala da confiança dos doentes, nele. Dos segredos que lhe dizem, das confissões últimas.
Nunca praticou directamente eutanásia. Mas já ajudou equipas a decidir. E apoiou doentes no processo de "discernimento" sobre a opção a fazer. Sem juízos de valor, sem pressões, sem ambiguidades. Há que dar tempo para a decisão, disse-me, para morrer nunca há pressa...
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