sábado, maio 31, 2008
O Ópio do povo
Quando leio um artigo de João César das Neves regra geral tenho o mesmo sentimento que tive ontem ao assistir em directo ao concerto de Amy Winehouse.
No primeiro caso é sempre patético observar como é que um homem obviamente inteligente e um reputado economista escreve tantas inanidades devido aos efeitos perniciosos de uma religiosidade distorcida e radical. Muitas vezes o sentimento que me assalta quando leio certas "crónicas " é o de uma profunda piedade.
No segundo caso, ver uma cantora com grande potencial, numa humilhação pública em palco por estar obviamente sob o efeito conjunto de álcool e drogas, à beira do desfalecimento , é qualquer coisa de absurdo.
Reparei que estava ferida num pulso e tinha vário hematomas – terá sido agredida ou seria auto mutilação? Não faço ideia o que a levou a actuar naquelas condições limite, nem como a deixaram actuar naquelas circunstâncias. Lembrou-me um circo romano. E a sensação final depois do concerto foi precisamente a mesma depois de ler alguns dos artigos panfletários do JCN - uma profunda tristeza e uma profunda piedade.
A única vantagem é pedagógica: pode–se sempre usar exemplos destes para demonstrar aos adolescentes os efeitos do ópio e derivados.
Bafio
Num pequeno grupo reúnem-se claramente os saudosistas, que cultivam uma verve vagamente descrente e adoptam nomes de acossados velhos do Restelo. Os nomes como "O saudosista", "Vencidos da vida", "Velho", "O pasquim " , " o último reduto". " je mantiendrai", "Eternas saudades " (este lembra claramente um epitáfio) apontam para uma simbólica de amargurada fixação senil ao passado inútil.
Um segundo grupo, mais claramente fascista ou neonazi, adopta nomes condizentes com a simbologia e a iconologia fascistas e do Estado Novo e aí abundam, com pouca imaginação, nomes repetitivos começados por a"Legião" disto e daquilo, "Nacional", "Estado Novo" e derivados, "Império" , "Fascismo" e companhia, as habituais "lusitanices" ", alguma " restauração" e um inefável "portugal dos pequenitos".
Por último, um grupo mais místico, mas igualmente comungante das ideologias dos grupos anteriores. Aí destacam-se pela virulência, as referências medievais a "cruzadas", a "penas e espadas "ou a "reconquistas", havendo mesmo um "embaixador do inferno", um "viajante de Damasco", uma bafienta "casa de sarto" e a pungente a "defesa de lefebvre".
sexta-feira, maio 30, 2008
Eutanásia
Fala da confiança dos doentes, nele. Dos segredos que lhe dizem, das confissões últimas.
Nunca praticou directamente eutanásia. Mas já ajudou equipas a decidir. E apoiou doentes no processo de "discernimento" sobre a opção a fazer. Sem juízos de valor, sem pressões, sem ambiguidades. Há que dar tempo para a decisão, disse-me, para morrer nunca há pressa...
quinta-feira, maio 29, 2008
É um autocarro de periferia e as duas mulheres sussurram as vidas num francês ligeiro, com aquela displiscência doce das confidências murmuradas entre paragens e destinos.
A mulher loira de pele de sardas translúcidas afaga a carteira enquanto confessa a idade. Quarenta e três anos, as rídulas sob o olhar azul lembram uma menina envelhecida, gotinhas de luz estrelam-lhe os olhos quando fala sobre o novo amor após um casamento desfeito.
A palavra “gentil” em versão francesa é dita pelo menos quatro vezes, em variações diferentes, para justificar o amor reencontrado.Un homme gentil, très gentil pour moi, je suis ravissante.Saem na paragem seguinte, num frufru precipitado.
Viagens
Mochila encostada à porta da carruagem, acotovelou-se entre uma freira sonolenta e um miúdo com corte de cabelo de jogador de futebol.
Espreitou pela janela enquanto o primeiro cigarro lhe amanhecia nos dedos, fascinada com a linha-férrea que se espraiava numa linha de água rumo a um infinito qualquer.
Uma sensação de maravilhamento invadiu-a como uma premonição – ao fundo, na paisagem, algo de aquoso e cálido tomava forma. Sob a luz rosácea vislumbrou as primeiras casas e linhas do cais, tudo misturado com cheiro a lodo, gaivotas a tangerinar por entre barcos.
Abriu então completamente a janela, apresar do friorento frémito da freira e deixou-se enovelar por uma súbita sensação de liberdade, a percepção súbita que se dirigia ao futuro – não um futuro qualquer, vislumbrado na luminescência das casas, mas um futuro escolhido, onde todos os impossíveis a esperavam. Tinha vinte anos, uma mochila, um caderno de notas cheio de poemas, travel cheques, uma máquina Kodak com rolos suplentes que demoravam quatro dias a revelar, um mapa, dois últimos cigarros e estava a chegar a Veneza pela primeira vez na vida, completamente sozinha, que é o mesmo que dizer completamente cheia de todas as lonjuras possíveis, feliz apenas por poder respirar a beleza de uma cidade sonhada.
Doutorando
fragmentos de poemas afagam-me os olhos.
Não sei se interrompa a escrita da discussão de resultados
e me ponha a alinhar parágrafos sobre a chuva que teima em não desabar.
domingo, maio 18, 2008
os fariseus
"É possível que ninguém acredite nesta história, mas aconteceu:Cuidei de uma senhora em estado terminal, que sentindo a aproximação da partida pediu a presença de um padre.O "capelão"(Padre do Hospital) foi chamado, esteve com ela alguns minutos e saiu de seguida, deixando-a num pranto incontrolável...Quando finalmente consegui falar explicou: “que quando jovem casou e o marido imigrou para o Brasil e nunca mais deu noticias, ficou com dois filhos pequenos, que criou com muitos sacrifícios e muito amor. Passados 12 anos conheceu um homem com quem "juntou os trapinhos” e teve dois filhos (legalmente foi possível divorciar-se e casar pelo civil) Foram TODOS felizes até que a doença veio bater-lhe à porta...Sentia que o "viagem para o Pai" estava próxima, quis reconciliar-se com Deus, mas o padre recusou-se a dar-lhe a absolvição, porque ela vivia em pecado. Informações chegadas do Brasil diziam que o ex marido, teria até já falecido, pois se faleceu replicou o padre, traga a certidão de óbito ai sim confessa-se e celebra-se o casamento.O pânico e o sofrimento desta mulher era tão grande, que pedimos a outro padre para vir visitá-la e se possível ajuda-la.Ele veio e conversaram horas...Ficou mais calma, mas a "doença" invadiam-lhe rápida e completamente os pulmões e a dificuldade respiratória era muito intensa, causando-lhe muito sofrimento, mal podia falar, apesar disso, reuniu a família e pediu que fizessem TUDO para confirmar se o pai dos filhos mais velhos ainda vivia ou não.A família iniciou uma luta contra o tempo...Durante 10 dias esta mulher agonizou heroicamente esperando pelo "bilhete" que segundo ela, lhe daria direito a viajar em graça para o Pai!Já ninguém acreditava..."
Ou seja, sem a certidão de óbito de um "marido morto", negavam a uma mulher moribunda um casamento válido, a reconciliação e a comunhão.
Bando de fariseus.
"Apenas os olhos, quando os abria, continuavam a transmitir vida!A certidão de óbito chegou e o "capelão" tratou de tudo:- Confessou o casal e deu-lhes a Sagrada Eucaristia, depois casou-os ali no hospital com os filhos e os netos presentes.No final do dia com um sorriso no rosto esta mulher maravilhosa viajou para o Pai!"
Sorte dela foi o outro gajo já ter morrido. Conclui-se que se tivesse apenas sido abendonada e estivesse civilmente divorciada, lá se ia a passagem aérea para o pai, e negavam-lhe acomunhão mesmo estndo moribunda.
Cambada de hipócritas e vendilhões do templo.
quinta-feira, maio 15, 2008
Exercícios
Há qualquer coisa de pornográfico na exibição da futilidade e da riqueza, quando neste país tantas pessoas estão no limiar da dignidade humana.
Fumogate
Sócrates fumou um "pensativo cigarro" num voo PRIVADO de longo curso.
O Primeiro Ministro não violou gravemente nenhuma lei, não teve um comportamento corrupto, não delapidou o erário público.
Quando se faz deste incidente um "caso político" em nome de uma "moralidade" sórdida e voyeurista, está tudo dito sobre pobreza mental da "oposição".
terça-feira, maio 13, 2008
Em Agosto de 2007 foi-lhe diagnosticada uma leucemia. De Agosto a Dezembro submeteu-se a vários tratamentos de quimioterapia. A doença ficou controlada, mas em Abril de 2008, num dos exames de rotina verificou-se uma recidiva.
A única solução eficaz é o transplante de medula óssea. Enquanto aguarda pelo processo de doação, que é sempre demorado, está novamente internado a fazer tratamento à base de quimioterapia para que a doença não progrida tão depressa.
O Tiago tem dois irmãos, Pedro e Francisco, mas infelizmente não são compatíveis. Há que encontrar, urgentemente, um dador. Pode ser um de nós. E de uma forma tão simples!
Por isso, mobilizámo-nos para organizar uma acção de recolha, a efectuar pelo Centro de Histocompatibilidade na Universidade de Coimbra. Há que garantir um número mínimo de participantes, sem o qual a intervenção não será eficaz. O processo é simples, muito pouco demorado, sem riscos (ver folheto em anexo). Apenas temos de ter entre 18 e 45 anos e pesar, pelo menos, 50 kg.Caso sinta ser dever seu ajudar o Tiago, ou outros como ele, por favor compareça na Faculdade de Medicina, no átrio Nascente do 2º andar, no próximo dia 19 de Maio (2ª feira), entre as 9:00 e as 13:00 ou entre as 14:00 e as 17:00h.
Mesmo que não possa, ou não queira estar presente, por favor transmita esta mensagem aos seus contactos.
segunda-feira, maio 12, 2008
Olha, o rei vai nu!
Naturalmente que, relativamente à veracidade das avaliações do povo, temos de econcordar com os monárquicos - VOX POPULI VOX DEI.
Pentecostes
Mas, se tivéssemos de traduzir com exactidão a palavra ”Ruach” teríamos de escrever não “O Espírito Santo”, mas “A Espírito Santo”.
É que, no seu significado original, o conceito de Espírito Santo é feminino.
Nem poderia ser de outra forma – o sopro criador que habita o mundo , a Pessoa de Deus que insufla, age e habita o coração de todas as coisas, num processo contínuo de amorosa e gratuita criação, só poderia ser a Pessoa feminina de Deus.
Nem sempre essa face feminina de Deus foi aceite e integrada na doutrina cristã.
Talvez isso explique em parte, a mariolatria , o endeusamento da mais humana de todas as mulheres, Maria.
Excluída a feminilidade amorosa de um(a) deus(a) criador(a), houve que inventar uma espécie de deusa substituta, numa sequela dos ritos pagãos de adoração de entidades femininas.
Ainda assim, nessa mariolatria ingénua e ritualística, é a face feminina de Deus que se busca. E por vezes se encontra, ainda que por ínvios caminhos.
sábado, maio 10, 2008
A monstruosa doutrina do Amor
Eis aqui o melhor exemplo da "monstruosa doutrina":
Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei» (João 13,34).
Jesus qualificou este mandamento como «novo». De que forma este mandamento é novo? O amor mútuo é já pedido no antigo mandamento: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18). Mas Jesus não manda fazer a mesma coisa, manda algo de radicalmente novo.Jesus dá ao amor aos outros uma nova medida. Trata-se de amar ao próximo com o Amor de Deus, ou como tão luminosamente entreviu Santo Agostinho, amar no próximo o próprio Deus que o habita.
Dessa forma, amar o próximo é ainda e sempre amar Deus acima de todas as coisas – não se pode amar Deus cima de todas as coisas e não amar o próximo da mesma forma radical e extrema.
Não há qualquer dicotomia ou hierarquia entre as duas dimensões - è isso o "Mandamento Novo".Por isso o mandamento novo é tão monstruoso para os que vivem de pietismos estéreis.
A mesma "Monstruosa doutrina "formulou Santo Agostinho:
" Aquele que ama o seu próximo com um amor puro e espiritual, quem amará nele senão Deus? É este amor que o Senhor quer separar da afeição puramente natural, ao acrescentar: “Como eu vos amei”. Que é que Ele amou em nós, senão Deus? Não Deus como nós o possuímos já, mas tal como Ele quer que o possuamos quando “Deus for tudo em todos”.
Santo Agostinho
sexta-feira, maio 09, 2008
Fatwas e nazismo religioso
quarta-feira, maio 07, 2008
Enquanto o PGR se preocupa com minudências disciplinares nas escolas, a principal causa de criminalidade violenta em Portugal, continua a aumentar.
Foram 17 as mulheres assassinadas por violência doméstica no primeiro trimestre deste ano.
Alterações climáticas
Mais uma catástrofe ecológica de contornos apocalípticos.
Entretanto, por cá, discute-se o sexo dos anjos e junta-se lenha para fogueiras imaginárias.
terça-feira, maio 06, 2008
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner
segunda-feira, maio 05, 2008
Liberdade
Para ela, claramente a religião muçulmana é única a que defende os valores da família, pois define com clareza o papel da mulher – em casa, no serviço doméstico, cuidadora dos filhos.
A culpa dos horrores da sociedade de hoje está no trabalho feminino e nesta ideia das mulheres não terem um papel social predeterminado.
Tal discurso está integralmente de acordo com os tradicionalistas catolaicos.
Enquanto a oiço, incrédula, relembro imagens de mulheres a serem lapidadas e chicoteadas em praça pública ou vergastadas pela “polícia dos bons costumes” do Irão porque mostraram uma nesga do tornozelo.
Pelo meio, a muçulmana portuguesa deixa escorregar uma confidencia – a conversa amena que teve no Cairo com uma estudante de gestão . No Cairo, onde, fez questão de afirmar “tem liberdade “. Liberdade para usar a fatiota islâmica. Como se em Portugal não houvesse plena liberdade de vestir fardas religiosas ou outras. ( Eu por mim é que tenho dúvidas de poder ir a um país islâmico sem ter de me submeter à ignomínia de andar de cabeça coberta á força. Ah… mas esqueci-me, nos países islâmicos as mulheres têm mais liberdade. Assim o afirma o interlocutor dando como exemplo… as mulheres no Irão).
Que seja o erário público e os meus impostos a financiarem dislates destes .....
domingo, maio 04, 2008
Proselitismo 2
O homem veio o tempo todo a sarrazinar-me com os mais desagradáveis e gráficos pormenores do fim do mundo tal como ele tinha a certeza absoluta, absolutinha, que se ia dar, olhando para trás de vez em quando, para se certificar de que eu estava a prestar atenção e era merecedor de salvação
À chegada ao hotel, e depois de receber o dinheiro da corrida, o taxista estende-me dois cartões. O primeiro, era o da "igreja" que ele frequentava e onde eu deveria dirigir-me para ouvir a boa nova. O segundo, era de um clube de garotas e strip. Quando lhe fiz estranhar este, respondeu-me: "É para se divertir um bocado antes de ser salvo."
sábado, maio 03, 2008
Silêncios
Amelie Nothombe (2004) Temor e tremor
Nazismo religioso
sexta-feira, maio 02, 2008
A VERDADE
Alfonso Llano Escobar