terça-feira, outubro 17, 2006
O medo vai ter tudo
O medo vai ter tudo
pernas ambulâncias
e o luxo blindado de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chãono teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários(assim assim)
escriturários(muitos)
intelectuais(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Alexandre O'Neill
(...)
(1) O Poema Pouco Original do Medo, in " Abandono Vigiado", 1960
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