Para lá deste bando de tias esvoaçantes, algumas com conversas meta-intelectuais sobre conceitos clínicos ou jurídicos, há um outro grupo.
Os homens. Aqui a imagem é diferente – falam como pretensos peritos em questões metafísicas vedadas ao mulherio – princípios jurídicos, Bioética, filosofia dos valores, ideário político, epistemologia do conhecimento científico.
Quando abordam a questão da despenalização do aborto, o rosto é sempre o mesmo, a voz desce pelo menos duas tonalidades, os olhos oscilam entre a dureza macha e a perplexidade estudada, o tom é sempre sério e sombrio, cheio de lugares comuns. Alguns adoptam a postura sorumbática de julgadores eméritos e condescendem a esclarecer-nos sobre os limites éticos dessas coisas do mulherio.
Afirmam despudoradamente que a actual lei se deve manter, até porque ela não se aplica na prática. Ou seja, invocam o efeito dissuasor da lei para convictamente defender que, não só ela não é aplicada, porque ninguém se sente vinculado por ela, como não é desejável que o seja. E por isso não deve ser alterada.
E dizem este raciocínio alarve com um ar seriíssimo, sem o menor pestanejar de ridicularia, do pedestal do seu saber jurídico. Enfim, sem pudor.
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