Os fiordes já estão acordados, o cabelo comprido das águas, as cascatas a
golfejarem para a boca das falésias, riscos de vidro até ao mar. O verde do
mar, tão fundo, tão gutural como a morte. O mar não é azul por aqui. Olha-se para a água e sabemos que é gélida, gélida como o
verde mais escuro, e no entanto, temos de nos agarrar com força à amurada do
barco tal é a vontade de mergulhar. Sobre a cabeça, o voo picado
das gaivotas e dos albatrozes, estico o braço e posso tocar-lhe as asas imensas
a branquear o azul, o marujo atira-me um berro, as gaivotas são perigosas,
segura-me o braço, meio aflito, recuo, elas seguem-nos mar adentro, os braços
da terra abrem rachas enormes até ao abismo, peixes ardem à superfície da água,
alguma coisa ali lhes adominga as almas.
Respiro. A inocência das aluadas veredas que se estendem até ao sul. A
noite demora a começar. Olhas o sol e pensas, é agora que a noite vai cair
sobre ti, quatro horas passadas e o sol está no mesmo sítio, o mesmo bafo
tricolor, laranja anilado, beringela doirada, um vento que tritura os ossos, as
últimas gaivotas que se acoitam atrás do vento.
Visto o casaco.
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