A
crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma
crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos
ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou
uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia
sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que
investe as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios
desequilíbrios e sobretudo a grave carência duma orientação antropológica que
reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo.
Enquanto os lucros de poucos crescem
exponencialmente, os da maioria
situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal
desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos
mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de
controle dos
Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma
nova
tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e
implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os
respectivos
juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os
cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma
corrupção
ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões
mundiais. A
ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a
fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja
frágil,
como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado
divinizado,
transformados em regra absoluta.
Francisco
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