Jesus nada diz aos fariseus.
Olha
para a mulher aterrorizada, espancada, um farrapo deitado no chão à sua frente,
à espera da execução inevitável . Na cara desfigurada da mulher vê-se a ele
mesmo, o crucificado apupado pela multidão sedenta de sangue e violência.
Mas quem o olha naquele farrapo é o rosto da sua própria mãe. Maria, apedrejada
violentada, arrastada por uma multidão. O seu coração enche-se de compaixão. O segredo
esquisito do seu nascimento, a nódoa de desconforto que carrega desde pequeno e
de que ninguém fala. Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro, inclina-se e
começa a rabiscar na poeira e em silêncio.
Não sabe o que dizer. Não há
palavras. Não pode defender publicamente a mulher, não pode violar a Lei de Moisés.
Não pode salvar a mulher com a Palavra. Não pode condenar mulher à morte,
porque ele sabe, dentro do seu coração, que se a lei de Moisés fosse seguida, a
sua própria mãe, maria teria sido lapidada até à morte por adultério. Ele está
curvado e em silêncio, porque não sabe o que fazer. Rabisca no chão intuitivamente
e se calhar reza. Não sabemos. O silêncio deve ter contagiado a multidão porque
de repente cada um deles olha para a sua vida, para a sua própria história,
para os seus segredos de família, para os negrumes ocultos de cada coração,
para os rostos amados que seriam lapidados sem piedade conjuntamente com aquela
mulher. Cada um deles descobre as suas marias de nazaré, as suas irmãs, as suas
mães, as suas amadas e concubinas, as suas filhas mais novas.
É por isso que a
multidão se dispersa pouco a pouco. Reza o Evangelho que o sentimento dominante
naquela multidão que, literalmente “cai
em si” é a vergonha. Deitam as pedras ao chão, envergonhados. A vergonha
inicial do Adão e Eva quês e tapam para fugir ao olhar de compaixão de deus. A vergonha
de Caim face à pergunta – o que fizeste
do teu irmão?
Que fizeste da tua mãe?
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