Li o livro "Auto-de-Fé", de Zita Seabra e de Gonçalo Portocarrero de Almada (Aletheia) grande arauto do Opus Dei. Li com interesse - o livro aliás lê-se muito rapidamente, de tão básico que é. Uma longa entrevista mais ou menos jornalística.
Uma nota prévia.Não é de estranhar que alguém que tenha vivido a maior parte da sua vida adulta activa sob a égide de uma rigorosa formatação estalinista, onde vigore o controlo do pensamento e a permanente limitação da liberdade (de agir, de exprimir opiniões livres ou simplesmente de se comportar de acordo com as sua consciência mais íntima) encontre refrigério numa organização católica com a mesma estrutura institucional. Se somarmos a isto o "secretismo de seita", um certo elitismo purificador, um grande sentido de casta ou mesmo a existência de células com um controleiro (o orientador espiritual), parece-me mesmo que o que mais se adapta a um ex fanático comunista é o fanatismo católico de movimentos como o Opus Dei ou o Comunhão e Libertação.
De volta ao livro. Além da esperada cassette relativamente a alguns postulados doutrinários e uns laivos de humor inteligente que me surpreenderam, li com detalhe a justificação da "mortificação" em questões de fé católica. Anote-se que mortificação, para o Opus Dei, é um eufemismo para coisas bastante gráficas, como a autoflagelação, o uso de cilícios, passar fome e sede até ao limite, realizar esforços físicos violentos ou mesmo suportar violência doméstica ou sevícia sexual (se for infligida no seio de matrimónio católico).
Pois Portocarrero não só justifica a mortificação física ( a violentação e dor física autoinflingida ou conscientemente buscada), como a considera positiva e mesmo necessária. E vai ainda mais longe. Coloca mesmo a possibilidade do masoquismo beato ser uma salvaguarda para os casos de pedofilia clerical. Não apenas para os padres abusadores, que deveriam substituir os impulsos pedófilos por umas boas vergastadas no lombo ou o uso de cilícios nos testículos mortificação física - e aí, quase que concordo com o Portocoarrera - mas, e nisto reside a sua intuição delirante, por nós outros, por todos os católicos.
Ao que parece, segundo Portocarrera há padres pedófilos porque nós, católicos, não nos mortificamos vergastamos o suficiente. A ligação entre os dois factos pareceu-me tão desconexa quanto doentia. Mas admito que me falte fé suficiente para ver o alcance da coisa. Afinal, também Trotsky, teve o mesmo problema de fé quando á visão de estaline . O próprio Mao foi surpreendido com a falta de fé de alguns seguidores a propósito da necessidade da fome purificadora imposta ao povo. Ninguém levou o jejum místico a tal extremo, 36 milhões de mortos que o digam.
Por isso, ontem mesmo, passei os olhos por uma entrevista dada pela "actual diva do erotismo sado- masoc" (assim foi apresentada publicamente). A entrevista é enjoativa mas fiquei a saber que as vergastadas são sexy e estão nos tops de vendas.
Ao que parece, segundo Portocarrera há padres pedófilos porque nós, católicos, não nos mortificamos
Por isso, ontem mesmo, passei os olhos por uma entrevista dada pela "actual diva do erotismo sado- masoc" (assim foi apresentada publicamente). A entrevista é enjoativa mas fiquei a saber que as vergastadas são sexy e estão nos tops de vendas.
E assim, as afirmações do Portocarrera sobre o tema começaram a fazer algum sentido.
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