Gosto de andar de combóio. Sinto uma espécie de embriaguês com a paisagem- os fundos das casas, os quintais invisíveis a descoberto, as praias inacessíveis, os pinhais, o rio douro lá em baixo, as vinhas carregadinhas de outono, as pessoas apanhadas de surpresa na sua vida esconsa e tímida, os espreitadores de janelas, os que sonham, os que ficam a ver passar combóios, os que acenam tímidos adeuses.
Ao meu lado o homem japonês de camisa branca lê um livros de promoção turística sobre Portugal. È extraordinariamente alto, para um nipónico, tem um belo rosto fechado e uma cabeça rapada com um formato estranho- a parte de trás do cranio é completamente plana, como se tivesse passado parte da infãncia com a nuca encostada a uma tábua. O combóio ronrona e ele adormece, com o rosto caído sobre o peito. A mão esquerda agarra convulsivamente uma garrafa transparente onde um líquido verde sacoleja ao som do combóio. Dentro da garrafa agita-se uma sombra. Estico as pernas até tocar o banco da frente. A sombra da garrafa perturba-me. Primeiro pensei que era uma alga ou uma planta e que a garrafa tinha uma espécie de chá dietético.
Depois fiquei intranquila- a sombra esverdeada parecia uma batráquio em decomposição.
Depois fiquei intranquila- a sombra esverdeada parecia uma batráquio em decomposição.
Sem comentários:
Enviar um comentário