Houve alturas em que a minha magreza me irritava. Tenho uma fotografia de perfil, com 12 anos, dois puxinhos a enquadrar um rosto esquálido , a boca redonda e uns olhos extraordinários de doçura enorme a saltarem da cara .Essa fotografia dava-me ferniquoques, por causa dos dentes incisivos ainda mal alinhados. E da magreza do queixo, tão fino. A avó aborrecia-me por não ter bochechas para beijar. Ao contrário dos outros netos,gorduchos e comilões, com carinhas de bebé cerelac, eu era uma miuda sem grandes apetites, ligeiramente enjoada, que odiava sopas, leite gordo e nunca, mas nunca mesmo, comia carne de porco.
Lembrei-me disto quando a Francisca , hoje, à hora de almoço me disse que tem saudades de correr.
A obesidade mórbida não a deixa sequer subir escadas.
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