Rosarinho nunca viajou. Passou trinta anos da sua vida agarrada à secretária da repartição de finanças. Amansou um marido, criou dois filhos, tratou dos pais envelhecidos, manteve imaculadamente limpo o T2 no lavradio, gastou a juventude a correr entre limpezas, compras, remédios e máquinas de calcular.
Rosarinho tem um pequeno vício. Adora viajar. Durante trinta anos acumulou prospectos de agências de viagens, informações de sítios exóticos, livros sobre cidades onde nunca pôs os pés. Recentemente rendeu-se à Internet. Quando os colegas de trabalho ou familiares querem saber informações sobre um sítio qualquer ou um destino de férias, vão ter com a Rosarinho. Sabe (literalmente), de tudo sobre os destinos mais distantes. Costumes locais, horas de voo, as melhores comidas, os sítios a evitar, moeda, trajectos turísticos, historietas , geografia. Rosarinho nunca saiu de Portugal. Durante anos fez projectos de longuissimas viagens. A ìndia, las vegas, capadócia, ilhas da páscoa, roma, burundi. Há sítios do mundo que lhe são mais familiares que as ruas do bairro onde vive.
O ano passado comprou um Moleskine por ouvir dizer que era o caderno dos viajantes infatigáveis.
E todas as tardes, enquanto atravessa o Tejo, de volta a casa ( antes dos tachos, montes de roupa suja e sanitas por limpar), Rosarinho, agarra no Moleskine e escreve memórias sobre todas as viagens que já fez.
Viagens imaginadas.
Viagens imaginadas.
As suas.
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