quarta-feira, abril 18, 2007

No excelente De Rerum Natura discute-se as diferenças entre Religião, Filosofia e Ciência.
A discussão prolonga-se nas caixas de comentários ( este é um dos raros blogues em que as mensagens nas caixas de comentários atingem o nível de qualidade dos posts).
Aqui fica um exemplo:
"Era o que faltava os filósofos ou os cientistas terem de se abster de defender certas ideias porque são contrárias ao dogma religioso. Aliás, é algo hipócrita a posição de algumas pessoas religiosas a este respeito — pois caso um cientista conseguisse provar a existência do Paraíso, ou que o vinho realmente sofria uma transubstanciação ao ser benzido na missa, de certeza que os religiosos não diriam “ah, pá, isso que se lixe, é irrelevante, é de outro domínio, eu tenho a minha fé e isso das provas científicas não interessa para nada”.
O camandro é que não interessa. Só não interessa porque nunca se conseguiu provar o que as religiões declaram que é verdade sem provas.»Desidério Murcho

Na Mouche

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora, bolas, escolheste o pior extracto! Os textos do Desidério são de boa qualidade, mas este não é um bom exemplo. Pelo contrário! É um dos casos em que dá um passo completamente em falso! Respondi muito claramente a este «trecho do camandro», assim:

«Aparentemente coerente, este texto apresenta vários problemas, que agruparei em dois aspectos.

Não calar… Em primeiro lugar, no dizer do Desidério, a ciência não se cala mesmo quando isso implica ir contra o dogma religioso. Mas então, isso implica que a ciência «falsificou» os dogmas religiosos? Note que falo em dogma em sentido técnico, o que lhe pertence, que são aqueles que são realmente determinantes para o homem religioso, que, em linguagem religiosa, têm implicações ao nível da salvação. Portanto, o sistema geocêntrico não é um dogma, nunca o foi. Falemos dos dogmas cristológicos, trinitário(s), escatológicos (de «éschaton»!)… Foram «falsificados» pela ciência? Acha mesmo que estes dogmas impedem por si mesmos a actividade científica? Como explica então que haja tantos cientistas católicos, alguns dos quais são padres? Serão menos cientistas por serem católicos?

Se a ciência provasse algum dogma... Em segundo lugar, com a acusação de hipocrisia, diz que, se pudesse, a Igreja usaria resultados científicos que corroborassem os seus dogmas. Mas, então surge uma multidão de problemas! Se, usando o seu exemplo, a ciência provasse a transubstanciação, esta continuaria a ser dogma? Continuaria a ser algo aceitável apenas pela fé? Não lhe parece que o exemplo não colhe? Nem este, nem qualquer exemplo que lhe ocorra sobre qualquer dogma! Qualquer dogma que fosse provado cientificamente não apenas tornava esse dado em dado evidente a toda a pessoa, mesmo sem fé, como, pela relação que tem com os outros dogmas, transformaria os conteúdos da religião em dados evidentes a quem não se recusasse ver, como um dado empírico mais. Portanto, não me parece que tenha qualquer sentido esta do camandro!…»


Neste caso, o texto do Desidério não foi na mouche, foi ao lado!

Alef