È desta forma que Márcia Smillack “ouve” este trecho musical. Em vez de sons, Márcia percebe a música como um conjunto de estímulos visuais.
Márcia pertence ao grupo de 1 a 4% de pessoas em todo o mundo que sofrem de sinestesia,uma alteração neurológica rara que provoca uma mistura dos sentidos.
Algumas destas pessoas vêem cada número, letra do alfabeto ou dia da semana como uma cor diferente. Para outras, os sons do ambiente são percepcionados como tendo padrões geométricos visuais., ou os estímulos visuais são percepcionados como tendo cheiros característicos.
Apenas recentemente experiências imagiológicas laboratoriais com PET confirmaram que a sinestesia era uma experiência sensorial genuína.
Uma das possibilidades de explicar esta perturbação é o facto de algumas áreas cerebrais serem contíguas (por exemplo, as áreas cerebrais activadas pela visualização de números estão muito próximas de áreas cerebrais activadas pela visualização de cores). Certas experiências de “confusão sensorial” poderiam ser explicadas por um curto-circuito neuronal em áreas cerebrais adjacentes.
1 comentário:
Uma nota algo lateral: apesar de sabermos que existem mais de cinco sentidos, continuamos teimosamente a falar unicamente em cinco sentidos... Por que será? Será para garantir que o «sexto» não desce de posição? ;-)
Ah, sobre a sinestesia. Vale a ver como a sinestesia ganhou um espaço muito especial na poesia do século XIX. Um dos casos mais famosos é o poema «Correspondances» de Charles Baudelaire:
“Correspondances”
La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles ;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.
Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.
Il est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
--Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,
Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.
Charles BAUDELAIRE, Les Fleurs du mal (1857)
Se bem me lembro, também a Clepsydra de Camilo Pessanha é rica em sinestesias. E, claro, em muitos mais autores.
Alef
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