A Mafalda, continua nervosíssima com a citação do Juíz do Tribunal Constitucional Dr.Paulo Mota Pinto que coloquei ( linkei) neste meu singelo blogue.
E, com a coerência a que já nos habituou, a Mafalda resolveu assumir que:
“O que o Dr. Paulo Mota Pinto diz no que transcreve já nós dissemos neste blogue (...) ” .
Ou seja, a Mafalda concorda com o Dr Paulo Mota Pinto relativamente a esta consideração muito específica, por mim citada.
Acontece que também eu.
Afinal há mesmo consensos.
quinta-feira, novembro 30, 2006
quarta-feira, novembro 29, 2006
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá-Carneiro
Pueril
Os intocáveis
A propósito da sua investigação antropológica sobre as castas de intocáveis, na índia, Rosa Maria Perez alertava para a nossas próprias categorias antropológicas de castas e intocáveis, nas sociedades ocidentais.
Dito de outras forma, quando estamos imersos num determinado referente cultural aceitamos como “natural” e definitivo, como algo de evidente e inquestionável um conjunto de representações sociais, modelos comportamentais e papéis prédefinidos que são interiorizados e incorporados como uma segunda pele sem que um juízo crítico de autoreflexividade permita destrinçar o que é verdadeiramente o EU e o que é circunstância cultural ou contingência.
Cada vez mais vivemos numa sociedade rigidamente estratificada, aglutinada em pequenas tribos impermeáveis, com pouquíssima interpenetração ou diálogo fusional com outras realidades ou outros grupos de pessoas.
O Outro é cada vez mais o estranho, o alien, percepcionado como alienado da realidade que nos é oferecida e que fazemos nossa, e julgamos única, última, verdadeira, sem que uma ponte ou uma ligeira interrogação nos faça intuir que o outro também é pessoa.. Há cada vez mais intocáveis, numa lógica de distanciamento do outro e de manutenção de territórios físicos, ideológicos, estéticos, políticos.
Cada grupo social elege a sua própria casta de intocáveis.
terça-feira, novembro 28, 2006
Felizmente há consensos
Extractos De um voto de vencido No Acórdão do Tribunal Constitucional :
(...)“aceito, porém, “a tese de que esta protecção "( da vida intrauterina) "não tem que assumir as mesmas formas nem o mesmo grau de densificação da exigida para o direito à vida subjectivado em cada pessoa, bem como a tese de que tal protecção se pode e deve ir adensando ao longo do período de gestação.
Aceito, ainda, que, quando se verifique estarem outros direitos constitucionalmente protegidos em conflito com a vida intra-uterina, se possa e deva proceder a uma tentativa de optimização, não sendo esta possibilidade vedada por qualquer escala hierárquica de valores constitucionais ...."
(...)“aceito, porém, “a tese de que esta protecção "( da vida intrauterina) "não tem que assumir as mesmas formas nem o mesmo grau de densificação da exigida para o direito à vida subjectivado em cada pessoa, bem como a tese de que tal protecção se pode e deve ir adensando ao longo do período de gestação.
Aceito, ainda, que, quando se verifique estarem outros direitos constitucionalmente protegidos em conflito com a vida intra-uterina, se possa e deva proceder a uma tentativa de optimização, não sendo esta possibilidade vedada por qualquer escala hierárquica de valores constitucionais ...."
segunda-feira, novembro 27, 2006
Os eunucos e as mulheres
A Mulher não pode dispor do seu corpo. grávido . apregoam.
E se em vez de uma mulher fosse um homem?
Se lhe crescesse um feto no escroto contra a sua vontade?
Como seriam os discursos sociais e religiosos sobre o aborto se os homens engravidassem?
E se em vez de uma mulher fosse um homem?
Se lhe crescesse um feto no escroto contra a sua vontade?
Como seriam os discursos sociais e religiosos sobre o aborto se os homens engravidassem?
Os Eunucos e as mulheres
A deliciosa vanda escreveu brilhantemente sobre os eunucos. E bem:
“O eunuco reprimido, na sua retracção maligna, apenas concebe o feminino sob dois prismas : a puta ou a virgem. Não se pense, por contaminação das técnicas de propaganda inauguradas pelo Concílio Vaticano II, que tal prisma foi recolocado nalguma benignidade revitalizadora. Basta ler os hediondos textos de João Paulo II sobre o assunto, para perceber-se que a maquilhagem e linguagem dúbia do sedutor desvitalizado apenas se modernizou. É aliás para isso que têm servido os concílios, e pouco mais.
(...) Contrapor a morte à vida, e afirmar-se como a favor de uma em detrimento de outra – é mutilação da própria vida, ou melhor, da consciência que cada qual pode ir desenvolvendo acerca de si enquanto ser vivo. Para a morte, pois claro, e a ressurreição, como sabeis ou devieis saber, não a anula, antes a implica, e o resto são cantigas de maus berços.”
“O eunuco reprimido, na sua retracção maligna, apenas concebe o feminino sob dois prismas : a puta ou a virgem. Não se pense, por contaminação das técnicas de propaganda inauguradas pelo Concílio Vaticano II, que tal prisma foi recolocado nalguma benignidade revitalizadora. Basta ler os hediondos textos de João Paulo II sobre o assunto, para perceber-se que a maquilhagem e linguagem dúbia do sedutor desvitalizado apenas se modernizou. É aliás para isso que têm servido os concílios, e pouco mais.
(...) Contrapor a morte à vida, e afirmar-se como a favor de uma em detrimento de outra – é mutilação da própria vida, ou melhor, da consciência que cada qual pode ir desenvolvendo acerca de si enquanto ser vivo. Para a morte, pois claro, e a ressurreição, como sabeis ou devieis saber, não a anula, antes a implica, e o resto são cantigas de maus berços.”
domingo, novembro 26, 2006
Da morte e da vida
Este belíssimo texto foi escrito por uma bela mulher. Porque a morte existe, mas a respiração do nosso sentir não morre , aqui fica a minha homenagem:
“Nunca quis um vestido a sério, pareciam-lhe sempre esbranquiçados pela força do uso e costume social. Em vez de alvura virgem via neles trapos desenhados para conter as infiltrações do amor. As infiltrações são sempre exteriores, pensava, a guerra bacteriológica que é passear um amor pelas ruas, avenidas, países, horas e anos sem que este seja contaminado. O cansaço. Depois ele oferecia-lhe um pirilampo cortado rente na erva que o segurava, uma luz trémula e assustada, à beira do ataque cardíaco, repousava-lhe nas mãos durante uns minutos e apagava os candeeiros, a lua, a chuva, os relâmpagos. Amar é estar no palco, pensava, o foco sempre dirigido aos nossos passos, a insegurança de falhar perante uma plateia onde todos têm a nossa cara. Quando é que é ensaio e quando é que o espectáculo já começou? Quanto dura a temporada? Será itinerante?”
Cláudia
sábado, novembro 25, 2006
As dores das mulheres
As dores de parto e ao acto de parir , foram até há pouco tempo as experiências mais trágicas porque passavam as mulheres. SEM contracepçã0o eficaz e sem assistência médica , o risco de mortalidade mulheres era tão elevado ( e ainda continua a ser e países em que as mulheres não têm cuidados médicos) que a esperança média de vida das mulheres não ultrapassava os quarenta anos.
Para além do risco de vida, das mutilações provocadas por partos violentos, ( como fístulas e lesões permanentes), havia o próprio processo de parto em si, prolongado ( ás vezes durante dias) no meio de dores excruciantes. Não havia qualquer tipo de anestesia e todas das manobras obstétricas eram realizadas assim, mesmo as cesarianas .
A experiência e dor das mulheres foi objecto de muitos discursos ideológicos e sobretudo religiosos. Quando surgiram as primeiras tentativas mais ou menos eficazes de controlar a dor do parto , as reacções não se fizeram esperar.
Em 1847, James Young Simpson, um professor de obstetrícia de Glasgow, ao verificar as suas propriedades analgésicas e anestésicas começou a usar o clorofórmio para aliviar as dores de parto.
O clero e a autoridades religiosas opuseram-se afincadamente.
Uma imposição bíblica e a própria vontade de deus estavam a ser postas em causa quando se diminuía a dor as mulheres. Em última análises para além de violação de princípios éticos, a degradação da sociedade era uma consequência evidente...
“O clorofórmio é uma armadilha de Satanás, oferecendo-se aparentemente para glorificar as mulheres; quando , isso vai embrutecer a sociedade e roubar de Deus os mais profundos e ardentes clamores que surgirão em momentos de dificuldades, pedindo ajuda.”
Outra “suspeita “sobre o uso do clorofórmio foi imediatamente avançada – a ideia de que teria propriedades afrodisíacas nas parturientes.
Ao ler o que actualmente se escreve sobre as mulheres e o seu corpo grávido, não posso deixar de pensar que muito pouco mudou.
terça-feira, novembro 21, 2006
Ceausescu
Por detrás o defensores do Não há todo um projecto ideológico e jurídico penal que pode sintetizar-se num desejo - a vontade de alterar a Constituição e a Lei no sentido de conseguir a equiparação jurídica do embrião á Pessoa Humana.
Actualmente, no nosso ordenamento jurídico ( e em todo os ordenamentos jurídico do planeta inteiro), nenhuma ordem jurídica atribui tal equiparação em termos de conceptualização, definição ontológica ou estatuto jurídico ou direitos de personalidade.
Nenhuma.
Muito menos a nossa.
Mas estes ideólogos prisionais querem claramente uma alteração jurídico constitucional nesse sentido. O que pretendem objectivamente falando é criminalizar todos os tipo de interrupção da Gravidez, de contracepção ou de técnicas de PMA e impôr a obrigatoriedade das todas as mulheres em idade fértil cumprirem obrigatoriamente as suas funções de parideiras. ( A legislação vigente na Roménia de Ceausescu é um bom exemplo das consequências jurídicas destas concepções.)
Querem impor a sua particular visão moral a toda a comunidade, através da alteração (ou reinterpretação abusiva) de normas jurídicas fundamentais, como a Constituição da República. Mesmo quando a consciência ético jurídica dominante dessa comunidade aponta no sentido oposto.
Penso que as ditaduras funcionam assim…
Mas será útil que no debate que se avizinha que estas motivações sejam postas a nu.
Actualmente, no nosso ordenamento jurídico ( e em todo os ordenamentos jurídico do planeta inteiro), nenhuma ordem jurídica atribui tal equiparação em termos de conceptualização, definição ontológica ou estatuto jurídico ou direitos de personalidade.
Nenhuma.
Muito menos a nossa.
Mas estes ideólogos prisionais querem claramente uma alteração jurídico constitucional nesse sentido. O que pretendem objectivamente falando é criminalizar todos os tipo de interrupção da Gravidez, de contracepção ou de técnicas de PMA e impôr a obrigatoriedade das todas as mulheres em idade fértil cumprirem obrigatoriamente as suas funções de parideiras. ( A legislação vigente na Roménia de Ceausescu é um bom exemplo das consequências jurídicas destas concepções.)
Querem impor a sua particular visão moral a toda a comunidade, através da alteração (ou reinterpretação abusiva) de normas jurídicas fundamentais, como a Constituição da República. Mesmo quando a consciência ético jurídica dominante dessa comunidade aponta no sentido oposto.
Penso que as ditaduras funcionam assim…
Mas será útil que no debate que se avizinha que estas motivações sejam postas a nu.
marketing e ética
Ao contrário do que tinha exigido há uns dias atrás, em que exigia a marcação do referendo o mais rápido possível, o PP quer o referendo apenas em Março.
Ou seja, já que não se pode referendar durante o natal ( isso é que era um golpe de marketing, suspiram alguns amigos..) então apostemos na Páscoa… Férias, espírito religioso, abstenção… Tem tudo a ver.Além disso as empresas de marketing precisam de tempo e financiamento para fazer boas campanhas eleitorais… «
Ou seja, já que não se pode referendar durante o natal ( isso é que era um golpe de marketing, suspiram alguns amigos..) então apostemos na Páscoa… Férias, espírito religioso, abstenção… Tem tudo a ver.Além disso as empresas de marketing precisam de tempo e financiamento para fazer boas campanhas eleitorais… «
domingo, novembro 19, 2006
Na foto - Idoso com seis semanas
O spam funciona como ruído na identificação e selecção de mensagens realmente importantes.
É cansativo fazer a filtragem.
É assim para o mail , é assim nas caixas de comentários, e é assim em certos debates.
A maioria das intervenções são spam- puro ruído , falsidades, cavalos de tróia para vírus.
Alguns utilizam facciosamente o discurso metajurídico para fazer prevalecer a sua ideologia.
Outros o insulto barato. Outros brandem a religiosidade primária ou o discurso justicialista. Outros a ideologia de extrema direita, o racismo e a misoginia mais pura.
O SPAM aí está no seu esplendor.
Parece que é uma inevitabilidade.
So há uma coisa a fazer. DELETE.
sábado, novembro 18, 2006
O PODER DO $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
"Uma campanha «moderna, moderada, inovadora e profissional» é o que promete a plataforma que irá congregar os movimentos pelo ‘não’.
Tão moderna que está a cargo da empresa Partners, a mesma que fez a nova campanha do BPI."
Quem a financia?
Tão moderna que está a cargo da empresa Partners, a mesma que fez a nova campanha do BPI."
Quem a financia?
sexta-feira, novembro 17, 2006
Encontrou-o a rondar no adro da Igreja. Meio encolhido, vagueava em círculos, um pouco á toa, talvez em busca de algum abrigo para a chuva, nas arcadas.
A mulher não se conteve:
- Procura alguém? Precisa de ajuda? Uns olhos azuis fitaram-na. Um súbito rubor , um sotaque eslavo, o homem ergue a mão para a Igreja:
- Precisar da ajuda d’Ele.
( Nessa noite Igor arranjou uma casa de abrigo para não dormir ao relento. E iniciou o seu processo de integração numa nova comunidade, através de uma organização católica.Com uma voz belíssima e formação musical, apesar de ortodoxo, faz questão em cantar no coro da Igreja onde acha que Deus o escutou.
Esta história é verídica e ao ouvir o seu relato em primeira mão pensei: quando escutamos verdadeiramente os outros, podemos ser o Deus que os escuta..
Foto - Imigrantes ilegais em centro de acolhimento, espanha.
Alguns acham que as mulheres não têm direito ao útero que é seu.
Mas que os homens que as inseminam têm todo o direito ao útero delas.
Afirmam mesmo que nenhuma mulher deve poder fazer um aborto sem autorização do macho inseminador ( mesmo que seja o violador, como é óbvio).
Para esses, a pergunta do referendo só poderia ter uma redacção.
Esta.
Mas que os homens que as inseminam têm todo o direito ao útero delas.
Afirmam mesmo que nenhuma mulher deve poder fazer um aborto sem autorização do macho inseminador ( mesmo que seja o violador, como é óbvio).
Para esses, a pergunta do referendo só poderia ter uma redacção.
Esta.
quarta-feira, novembro 15, 2006
TRibunal Constitucional
No Acórdão nº 85/85, explicitou-se que :
1 - “ entende-se que a vida intra-uterina compartilha da protecção que a Constituição confere à vida humana enquanto bem constitucionalmente protegido (isto é, valor constitucional objectivo), mas que não pode gozar da protecção constitucional do direito à vida propriamente dito que só cabe a pessoas - podendo portanto aquele ter de ceder, quando em conflito com direitos fundamentais ou com outros valores constitucionalmente protegidos.
2 - “ A vida intra-uterina não é constitucionalmente irrelevante ou indiferente, sendo antes um bem constitucionalmente protegido, compartilhando da protecção conferida em geral à vida humana enquanto bem constitucional objectivo (Constituição, artigo 24.º, n.º 1). Todavia, só as pessoas podem ser titulares de direitos fundamentais pois não há direitos fundamentais sem sujeito -, pelo que o regime constitucional de protecção especial do direito à vida, como um dos «direitos, liberdades e garantias pessoais», não vale directamente e de pleno para a vida intra-uterina e para os nascituros.
É este um dado simultaneamente biológico e cultural, que o direito não pode desconhecer e que nenhuma hipostasiação de um suposto «direito a nascer» pode ignorar: qualquer que seja a sua natureza, seja qual for o momento em que a vida principia, a verdade é que o feto (ainda) não é uma pessoa, um homem, não podendo por isso ser directamente titular de direitos fundamentais enquanto tais.
A protecção que é devida ao direito de cada homem à sua vida não é aplicável directamente, nem no mesmo plano, à vida pré-natal, intra-uterina.
Esta distinção é de primacial importância, sobretudo no que respeita a conflitos com outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. Sendo difícil conceber que possa haver qualquer outro direito que, em colisão com o direito á vida, possa justificar o sacrifício deste, já são configuráveis hipóteses, em que o bem constitucionalmente protegido que é a vida pré-natal, enquanto valor objectivo, tenha de ceder em caso de conflito, não apenas com outros valores ou bens constitucionais, mas sobretudo com certos direitos fundamentais (designadamente os direitos da mulher à vida, à saúde, ao bom nome e reputação, à dignidade, à maternidade consciente, etc
1 - “ entende-se que a vida intra-uterina compartilha da protecção que a Constituição confere à vida humana enquanto bem constitucionalmente protegido (isto é, valor constitucional objectivo), mas que não pode gozar da protecção constitucional do direito à vida propriamente dito que só cabe a pessoas - podendo portanto aquele ter de ceder, quando em conflito com direitos fundamentais ou com outros valores constitucionalmente protegidos.
2 - “ A vida intra-uterina não é constitucionalmente irrelevante ou indiferente, sendo antes um bem constitucionalmente protegido, compartilhando da protecção conferida em geral à vida humana enquanto bem constitucional objectivo (Constituição, artigo 24.º, n.º 1). Todavia, só as pessoas podem ser titulares de direitos fundamentais pois não há direitos fundamentais sem sujeito -, pelo que o regime constitucional de protecção especial do direito à vida, como um dos «direitos, liberdades e garantias pessoais», não vale directamente e de pleno para a vida intra-uterina e para os nascituros.
É este um dado simultaneamente biológico e cultural, que o direito não pode desconhecer e que nenhuma hipostasiação de um suposto «direito a nascer» pode ignorar: qualquer que seja a sua natureza, seja qual for o momento em que a vida principia, a verdade é que o feto (ainda) não é uma pessoa, um homem, não podendo por isso ser directamente titular de direitos fundamentais enquanto tais.
A protecção que é devida ao direito de cada homem à sua vida não é aplicável directamente, nem no mesmo plano, à vida pré-natal, intra-uterina.
Esta distinção é de primacial importância, sobretudo no que respeita a conflitos com outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. Sendo difícil conceber que possa haver qualquer outro direito que, em colisão com o direito á vida, possa justificar o sacrifício deste, já são configuráveis hipóteses, em que o bem constitucionalmente protegido que é a vida pré-natal, enquanto valor objectivo, tenha de ceder em caso de conflito, não apenas com outros valores ou bens constitucionais, mas sobretudo com certos direitos fundamentais (designadamente os direitos da mulher à vida, à saúde, ao bom nome e reputação, à dignidade, à maternidade consciente, etc
terça-feira, novembro 14, 2006
Solidão
Luís de Camões, numa frase simples, escreveu a mais radical definição de solidão:
“É solitário andar por entre a gente”.
Na turba que se move, por entre a gente que nos acotovela e invade,
atravessando a mole humana que fervilha de inquietação e bulício,
podemos andar completamente sós,
mais que sozinhos, solitários,
habitados por uma solidão sem rosto que ninguém pode tocar.
Estar solitário é este vazio de gentes em nós.
Curiosamente o poeta descreve esta solidão primordial como um sintoma da paixão.
O que é verdade.
Nunca estamos tão radicalmente sós como quando amamos.
Ou deixamos de amar.
sexta-feira, novembro 10, 2006
A contracepção eficaz reduz o aborto
Num Blogue do Não:
“Mas o estudo aborda também a relação entre a contracepção e o aborto, concluindo que a mudança para a contracepção moderna por parte das mulheres que usam contracepção tradicional (15% em média) e que não usam qualquer contracepção (9% em média) reduziria o aborto, em média, em 57%.
Mesmo abstraindo-nos da grandeza dos números, torna-se evidente que a aposta na informação e disponibilização de contracepção tem um impacto directo na redução do aborto”
De facto :
“Generally, there is a clear relationship between abortion and use of traditional contraceptive methods: the greater the ratio of traditional methods to all methods used, the higher the level of abortion (figure 4). A simulation using data from Armenia, Azerbaijan, Georgia, Kazakhstan, the Kyrgyz Republic, Romania, Russia, Turkmenistan, Ukraine and Uzbekistan showed that if women using traditional methods (an average of 15 per cent of all women of reproductive age) were to switch to modern methods of contraception, which have low failure rates, abortion rates could be reduced by an average of 24 per cent. If women with an unmet need for any contraception (about nine per cent of all women) were to adopt modern contraception, abortion rates would be reduced by an average of 33 per cent. Thus, abortion rates could be reduced by as much as 57 per cent on average if both traditional method users as well as women with an unmet need for family planning were to become users of modern methods (Westoff, 2003)."
Ora parece que finalmente estamos todos de acordo, mesmo as organizações que têm feito campanhas contra a pílula e o preservativo ou abaixo assinados contra a Educação Sexual nas escolas.
Só falta que a Igreja Católica venha defender em público a contracepção eficaz em vez de métodos contraceptivos falíveis e a disponibilização de Meios contraceptivos como a pílula e o preservativo como forma de prevenir o aborto. Por uma questão de coerência.
“Mas o estudo aborda também a relação entre a contracepção e o aborto, concluindo que a mudança para a contracepção moderna por parte das mulheres que usam contracepção tradicional (15% em média) e que não usam qualquer contracepção (9% em média) reduziria o aborto, em média, em 57%.
Mesmo abstraindo-nos da grandeza dos números, torna-se evidente que a aposta na informação e disponibilização de contracepção tem um impacto directo na redução do aborto”
De facto :
“Generally, there is a clear relationship between abortion and use of traditional contraceptive methods: the greater the ratio of traditional methods to all methods used, the higher the level of abortion (figure 4). A simulation using data from Armenia, Azerbaijan, Georgia, Kazakhstan, the Kyrgyz Republic, Romania, Russia, Turkmenistan, Ukraine and Uzbekistan showed that if women using traditional methods (an average of 15 per cent of all women of reproductive age) were to switch to modern methods of contraception, which have low failure rates, abortion rates could be reduced by an average of 24 per cent. If women with an unmet need for any contraception (about nine per cent of all women) were to adopt modern contraception, abortion rates would be reduced by an average of 33 per cent. Thus, abortion rates could be reduced by as much as 57 per cent on average if both traditional method users as well as women with an unmet need for family planning were to become users of modern methods (Westoff, 2003)."
Ora parece que finalmente estamos todos de acordo, mesmo as organizações que têm feito campanhas contra a pílula e o preservativo ou abaixo assinados contra a Educação Sexual nas escolas.
Só falta que a Igreja Católica venha defender em público a contracepção eficaz em vez de métodos contraceptivos falíveis e a disponibilização de Meios contraceptivos como a pílula e o preservativo como forma de prevenir o aborto. Por uma questão de coerência.
quinta-feira, novembro 09, 2006
quarta-feira, novembro 08, 2006
terça-feira, novembro 07, 2006
Pela Vida
Numa semana morreram vinte pessoas nas estradas portuguesas.
É uma epidemia silenciosa acolhida com uma indiferença extraordinária.
Se tivessem morrido vinte pessoas de uma qualquer outra doença - como uma meningite ou uma gripe - o alarmismo nacional teria um tom de histeria colectiva.
As pessoas adoptariam medidas preventivas provavelmente exageradas para reduzir ao máximo o risco de serem afectadas.
Como é possível que face a tanta morte inútil na estrada haja um sentimento geral de indiferença e aceitação?
É uma epidemia silenciosa acolhida com uma indiferença extraordinária.
Se tivessem morrido vinte pessoas de uma qualquer outra doença - como uma meningite ou uma gripe - o alarmismo nacional teria um tom de histeria colectiva.
As pessoas adoptariam medidas preventivas provavelmente exageradas para reduzir ao máximo o risco de serem afectadas.
Como é possível que face a tanta morte inútil na estrada haja um sentimento geral de indiferença e aceitação?
Não há dúvida.
Os gatos estão cada vez mais deliciosos e cáusticos.
A entrevista ao Dr Alberto João Jardim foi um dos momentos hilariantes da minha semana.
E que dizer da frase – “na minha barriga manda o dr gentil martins?”
Os gatos estão cada vez mais deliciosos e cáusticos.
A entrevista ao Dr Alberto João Jardim foi um dos momentos hilariantes da minha semana.
E que dizer da frase – “na minha barriga manda o dr gentil martins?”
segunda-feira, novembro 06, 2006
O século XXI será um século de catástrofes globais associadas a grandes alterações climáticas. Há continentes inteiros sujeitos a fragilidades ecológicas.
Fenómenos de deslocação em massa de pessoas relacionados com alterações ambientais já estão a acontecer. Fogem da seca extrema e da desertificação progressiva .
São os refugiados das alterações climáticas.
sábado, novembro 04, 2006
Morte das Mulheres
"Os mais velhos associavam aquela a outras mortes ( de mulheres pelos seus coompanheiros)de que vão tendo conhecimento pela comunicação social: "Isto é assim, uns é a tiro, outros à facada, não me admira nada", opinava um idoso, sentado no varandim da escada a menos de um metro do sítio onde se encontrava a poça de sangue (o local onde a vítima foi atingida)."
sexta-feira, novembro 03, 2006
O Parto, para além dos riscos de morte materna, pode ser uma experiência traumática e aterradora de dor sem sentido. Mesmo com apoio médico especializado, o “trabalho de parto”, o parto e o pósparto, é antes de mais uma vivência íntima, uma vivência relacional e visceral entre a mulher e o seu bebé.
Entre a pura animalidade do trabalho de parto e o trabalho psicológico/emocional de se tornar mãe, cujo impacto se prolonga durante meses ( e ás vezes a vida inteira), há contributos novos quanto á humanização do parto.
Com recurso á tecnologia e ao suporte médico, controlando activamente a dor física , mas colocando novamente as mulheres no centro das decisões.
Entre a pura animalidade do trabalho de parto e o trabalho psicológico/emocional de se tornar mãe, cujo impacto se prolonga durante meses ( e ás vezes a vida inteira), há contributos novos quanto á humanização do parto.
Com recurso á tecnologia e ao suporte médico, controlando activamente a dor física , mas colocando novamente as mulheres no centro das decisões.
quinta-feira, novembro 02, 2006
Eu não gosto de coprolália. Muito menos da sua utilização brejeira sempre que se fala em mulheres , sexualidade feminina ou controle da fecundidade feminina.
POrque é que os discursos sobre os corpos das mulheres e sobre a fertilidade desembocam obrigatoriamente em termos grosseiros?
Duas explicações: o medo e a frustração.
Há muitos homens mal amados. São os que mais usam a expressão foder.
Como diria o Miguel Esteves Cardoso, o amor é fodido, e eu acrescento, sobretudo quando se anda mal fodido.Talvez porque a "f. " mais abjecta tem em si a sede do amor e a oportunidade do mistério.
E as mulheres estão aí, nesse centro de tudo, onde os homens se perdem e se encontram.Talvez por isso haja tanto medo das mulheres e do seu corpo e da sua vontade e do seu infinito poder. O poder do amor e da vida.
Um velha história, não é?
quarta-feira, novembro 01, 2006
Tenho evitado escrever sobre cancro da mama.
Uma pessoa da minha família, que me é muito próxima, tem sobrevivido ao cancro e á mastectomia mutiladora há cinco anos. Não fez reconstrução mamária, por receio de mais sofrimento físico. A cicatriz do tronco transformou-se agora numa linha pouco visível, mas a mutilação de um corpo não cicatriza na alma.
Estas pequnas linhas nada dizem do percurso de solidão intensa, Coragem , apego á vida e dor visceral de quem vive com cancro.
São quase obscenas de tão simplistas.
Esta semana, num relatório de TAC de rotina li – dois nódulos no pulmão esquerdo, a localização precisa e o diâmetro. Cinco anos de luta.
Repete o Tac dia 3.
Uma pessoa da minha família, que me é muito próxima, tem sobrevivido ao cancro e á mastectomia mutiladora há cinco anos. Não fez reconstrução mamária, por receio de mais sofrimento físico. A cicatriz do tronco transformou-se agora numa linha pouco visível, mas a mutilação de um corpo não cicatriza na alma.
Estas pequnas linhas nada dizem do percurso de solidão intensa, Coragem , apego á vida e dor visceral de quem vive com cancro.
São quase obscenas de tão simplistas.
Esta semana, num relatório de TAC de rotina li – dois nódulos no pulmão esquerdo, a localização precisa e o diâmetro. Cinco anos de luta.
Repete o Tac dia 3.
No hospital, a minha tia jaz numa letargia comatosa depois de um extenso AVC.
Era uma mulher sólida e simples, de alegrias fáceis e pequenas garridices. Estive esta tarde com ela, na certeza absoluta de que não só não me reconheceu, como não identificou o meu toque , ou a a minha voz.
A morte é uma questão de tempos imprecisos .
Há que aproveitar o tempo que nos é oferecido.
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