A esta hora estou a chorar. Por uma cadela, que foi ontem abatida. Não era uma cadela qualquer. Não consigo colocar isto de outra forma, mas era a cadela mais querida, mais inteligente mais bondosa de todo o planeta. Era forte, obediente, paciente, leal. Sempre rodeada de crianças, como uma qualquer matriarca. Nada mais leal que uma cadela. Só uma mãe tem um amor assim. A cadela não era minha mas era minha, de uma certa forma era de nós todos . Era a cadela da família. Da nossa. Adoptou-nos há quinze anos desde que entrou nas nossas vidas, ainda cachorrinha. Nós todos - a sua matilha. Os que estavam mas já não estão, os que vieram a seguir. Teve cachorrinhos – muitos – todos belíssimos labradores que acabaram por ser vendidos e distribuídos por amigos e família. Ela ficou sempre.
Era uma cadela que falava. Garanto que falava. Olhava para nós e percebia tudo. Levou uma vida agitada e de viajante. Conheceu muitas casas e porões de avião, montanhas, rios e praias. E crianças, muitas crianças, nada mais nada menos que oito crianças, com quem brincou, carregou no dorso e suportou com doçura as mais turbulentas traquinices. Era uma cadela, tão, mas tão bonita, o pelo preto de labrador incansável. Gostava tanto do mar, de nadar ao fim da tarde. Estou a escrever isto e continuo a chorar. Foi abatida, que é uma forma estúpida de falar em eutanásia. A morte boa. Estava muito doente e em sofrimento. Eu sou completamente contra a eutanásia de pessoas por uma razão muito comezinha e egoísta. Não consigo suportar a eutanásia de animais, não consigo. Nem de um ratinho de laboratório, muito menos de uma cadela da família. Como imaginar sequer a eutanásia de seres humanos.
E pronto este é o texto mais pobre, mais infantil e mais triste que já escrevi neste blogue.
Se o céu existir, não faz sentido se não tiver animais.
Se esta cadela não estiver no céu, eu também não quero ir para lá.
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