sexta-feira, julho 09, 2010

Caixões com armas

O velho furriel lê revistas aos quadradinhos antes de adormecer.
Só o tio patinhas lhe apaga os rostos da insónia com que luta, alagado em suor, a lembrar os gritos e os corpos mutilados.
Mal acende a luz do candeeiro logo os fantasmas voltam ,
e quanto  mais envelhece e a sombra da morte se aproxima,
 mais as caras dos rapazes lhe aparecem cada vez mais novas, 
cadáveres a boiar na lagoa de uma guerra estúpida.
Os urros dos turras torturados pela PIDE, que diligentemente  acompanhava os pelotões, aparecem-lhe agora como gritos de pequenos garotos aterrorizados a acordarem a  noite,

que  o peso da guerra, atroz, marca para sempre o sono de um homem.

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