Aos que esperavam que a visita de Bento XVI em Portugal permitisse alguma esperança para um certo tipo de movimento integrista tridentino, a visita do papa saldou-se por uma dramático desconsolo expresso em vagas recriminações ou um compungido silêncio.
De facto, quer nos vários discursos pautados ao milímetro, quer nas várias tomadas de posição públicas, Bento XVI revelou-se tudo menos o reaccionário integrista católico de que se querem apropriar. O seu discurso no CCB, foi de uma abertura e progressismo notáveis, as referências à civilização do amor, ao primados dos direitos humanos, a saudação ao centenário da república, o assumir plenamente a questão de pedofilia clerical, a cordialidade com os representantes laicos do estado português , a defesa da laicidade, uma postura de serenidade e até humildade ( nada impomos, apenas propomos), o diálogo com o mundo da cultura e das artes, o encontro inter-religioso e ecuménico, tudo pontos de clivagem com os tradicionalistas mais rígidos ou com certas tendências de algums movimentos radicais .
Mesmo nas questões da moral sexual da Igreja, o papa espantou positivamente por não ter um discurso contundente ou reaccionário. Na sua curta e parca intervenção sobre o aborto, por exemplo, não apelou a leis mais restritivas nem á penalização criminal das mulheres que abortam – limitou-se a referir o seu apoio a instituições que combatem as condições socioeconómicas e culturais que explicam o recurso ao aborto e considerou mesmo a mulheres uma vítimas desse drama. Ora esta visão moderada e de compaixão nada tem a ver com os fundamentalistas pretensamente provida, e deixou alguns bastante furiosos com a “tolerância papal”. De igual modo, embora fizesse uma referência ao casamento heterossexual, não teve nenhuma reacção mais contundente ou de pressão sobre o PR…
Quanto aos que sonhavam com uma missa tridentina em Fátima rezada pelo papa ou com a crítica papal ao Cardeal Patriarca ou aos Bispos portugueses considerados como heréticos progressistas, o que resultou desta viagem foi uma clara afirmação do Bispado português e da sua actuação moderada e positiva, defensora do Concílio Vaticano II, uma atitude tão diferente do reaccionarismo crispado da igreja espanhola.
A organização do evento, excepcional, a máquina publicitária, a articulação igreja estado estiveram no seu melhor e isso dá também uma boa imagem dos “pastores actuais”.
Sem comentários:
Enviar um comentário