Em poucos dias, tratei dia e noite do meu filho mais novo, com uma amigdalite e febres altíssimas.
Em poucos dias, enterrei uma amiga querida e 48 horas depois defendi uma tese de doutoramento. Brilhantemente, dizem os outros amigos e a família. Brilhantemente, decretou o digníssimo júri, que me aprovou com louvor e distinção, por unanimidade na belíssima Sala dos Capelos. Uma honra imensa, eu sei. E um pequeno milagre.
Sinto uma gratidão profunda. E um certo peso de responsabilidade.
A euforia não chegou, nem sequer o inebriamento em que já vi alguns mergulhar. No dia seguinte, às nove horas estava no meu gabinete, a receber estudantes.
Não me sinto diferente. Nem o título académico, nem a entrevista de jornalistas, nem os cumprimentos de colegas e alunos ( uns sentidos, outro por delicadeza formal), ultrapassam o orgulho dos meus filhos, do meu marido, dos meus pais e sogros, dos amigos verdadeiros.
Uma querida amiga deu-me hoje uma belíssima jóia em forma de coração como presente de doutoramento. Trouxe-o hoje todo o dia bem perto da garganta, onde a voz começa e a vida se acaba.
Usei-o todo o dia como uma espécie de medalha, um símbolo desta luta que só eu sei.
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