quinta-feira, abril 05, 2012

E no entanto move-se


Palavra do Bispo

Não consigo entender como, em pleno século XXI, existam pessoas que querem a volta da Missa em latim, com o padre celebrando “de costas para o povo”, usando os pesados paramentos “romanos”. Estamos celebrando, neste ano, os cinqüenta anos da abertura do Concílio Vaticano II, quando já sentimos a necessidade da realização de um Vaticano III e encontramos gente que quer retornar ao passado. E, o que é mais preocupante, são pessoas que freqüentaram a universidade, que entraram na universidade, mas a universidade não entrou neles. Penso que é hora de os nossos cientistas inventarem um aparelho para “abrir cabeças”. O “desconfiômetro” já está ultrapassado, mesmo porque estas pessoas não desconfiam que estão “fora de linha”, “fora de época”. Querem, a todo custo, a volta ao passado. Vivem de milagres e aparições, de devoções e pieguismo já, felizmente, ultrapassados. Imaginemos um padre celebrando em latim numa capelinha rural. “Dominus vobiscum”. “Et cum spiritu tuo”. O nosso povo simples vai pensar que o padre está maluco ou, pelo menos, que o está xingando. Lembro-me de meu tempo de criança, quando a missa era em latim. As senhoras piedosas, não entendendo nada, rezavam o terço. Não tenho nada contra o terço -aliás eu rezo o rosário todos os dias- mas terço é reza, não é celebração. Só falta defenderem a volta às famosas “mantilhas” que cobriam as cabeças das mulheres. E eu pergunto: por que não a dos homens? Seria até bonito ver os homens de “mantilhas rendadas”. Difícil seria encontrar quem as quisesse usar. A não ser alguns “cabeças de vento” que andam por aí querendo ensinar o pai posso ao vigário. Mas, persiste a pergunta, o que está por detrás disso? Um saudosismo? Penso que não. É mais do que isso: é um desejo mórbido, um medo do novo. Uma aversão à mudança. É o que poderíamos chamar de -para usar uma expressão francesaum “laissez faire, laissez passer”, um “deixa estar para ver como é que fica”. É uma tentativa de manter o “status quo”, mesmo que esse “status quo” beneficie a uma meia dúzia. E os outros é que se danem. Para esses puritanos o inferno está cheio de gente; quando na verdade, cheio está o céu, porque Deus quer salvação de todos. E não apenas de uma minoria moralista que vê pecado em tudo e para quem o capeta é mais poderoso do que Deus. “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes”, diz o profeta. Gente que se preocupa em lavar os copos, as taças, e não as mentes e os corações. É a velha posição dos fariseus - que ainda hoje são muitos- que criticavam Jesus por curar no dia de sábado. Lembro-me da história de uma pessoa que, ouvindo a notícia de que o João havia assassinado Pedro na sexta feira santa, disse: “por que ele não deixou para matar no sábado?“ Para esta pessoa o dia era o mais importante. Termino citando dois pensamentos que fazem pensar: “O passado é uma lição para se meditar, não para se reproduzir” (Mário de Andrade — autor de Macunaíma); “Leve do altar do passado o fogo, não as cinzas” (Jean Jures — líder socialista
 francês)
+ Dom Paulo Sérgio Machado Bispo de São Carlos

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