"Eu não tenho dúvidas: não gosto de mulheres tapadas. Pior, tenho medo delas. Algumas freiras também me assustam bastante. A primeira vez que vi uma mulher completamente tapaa foi num corredor de hotel, meio escuro, e era só ela e os véus dela e a máscara de cabedal dela. Um susto! Depois, à medida das viagens, fui-as vendo em vários outros sitios e nunca me habituei. Não é propriamente delas que tenho medo. É o medo primário, abdominal, de saber que poderia ser como elas. Não sei se os homens alguma vez pensam nisso, na hipótese de terem de tapar o corpo e a cara, de não poderem votar como a outra metade, de terem de ter autorização superior (pai, cônjuge, o que for) para viajar, trabalhar, fazer uma série de outras coisas sobre as quais me parece normal decidir por mim. Mas não é um dado adquirido. Quando eu nasci, e não tenho assim tantos anos, em Portugal todas essas proibições e autorizações eram pedidas às mulheres que, mesmo sendo adultas, tinham um dono. Eu não me esqueço disso e não me esqueço do que seria a minha vida se tivesse nascido um pouco mais a sul. "
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