A reportagem, a frio, sobre a guerra colonial portuguesa e a morte atroz de um soldado.
A geração rasca preocupa-se em não arranjar rapidamente um emprego de escritório que permita ter acesso ao consumismo volátil. Os deolinda cantam um hino para uma geração indolente, sem grandes sonhos e nenhum sentido comunitário. Os seus avós morriam como cães numa guerra inútil, ainda acreditavam nos deveres e na pátria. Mas isso eram outros tempos.
Como em todas as guerras eram os pobres que morriam.
Na reportagem implacável, um homem nu, esfacelado, geme em agonia durante meia hora até morrer. Grita "matem-me, matem-me", mas nenhum dos companheiros tem a coragem de lhe dar um tiro, quarenta anos depois, ainda dormem com os gritos dele nos ouvidos e o remorso de não o ter matado.
A Deolinda cantarola e emociona os mesmos, décadas depois - todos sabem que os filhos queridos do regime não andavam pelo mato, nem a elite intelectual da oposição que punha os filhos longe da guerra em países francófonos, os mortos eram os camponeses, os mais pobres de portugal, a maioria analfabetos, atirados como animais para o meio do mato, a defender a pátria de minho a timor, matem-me, matem-me, onde fizeram, eles próprios, atrocidades sem nome, como em todas as guerras,
os deolinda cantarolam, emocionando uma geração rasca, que nunca lutou por nada a não ser pelo seu próprio bem-estar imediato, não pagamos, não pagamos, e aposto que muda de canal horrorizada com o mau gosto da reportagem, enquanto se lamenta não ter um emprego bem pago para comprar a casa de sonho, um carro mais cool ou os sapatos Manolo Blahnik, no tempo do salazar é que era bom,
matem-me, matem-me.
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