quarta-feira, setembro 23, 2009

O doente da cama 15

Como observou Goffman com uma lucidez acutilante, no hospital o tempo escoa-se, perde fronteiras e funciona em espasmos condicionados por ritmos alheios.
Condenados à imobilidade - ou será que no dia a dia somos condenados à mobilidade? - movemo-nos de súbito muito mais lentamente. Como se o ar fosse rarefeito e gravidade nos colasse à exactidão da cama. .Olhamos com mais atenção para pormenores antigos como os pés, o tom da pele, a curva das unhas, a colina dos ombros e tudo nos parece tão familiar e precioso. Quando somos bebés, todos passamos longas horas a explorar o corpo num narcisismo lúdico que é a primeira forma de organização/apropriação do mundo. Quando crescemos nos corpo , o corpo escapa-se-nos vagarosamente, deixamos de brincar com os dedos dos pés ou de gargalhar com os braços. Deixamos o nosso brinquedo primordial.

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