domingo, maio 20, 2007

Aguarela




Na praça, á volta do tocador de guitarra, amontoa-se uma pequena multidão policromada. Os mais novos de rastas, roupas étnicas, tatuagens, piercings, as marcas codificadas da tribo, mistura de subculturas alternativas em que padrões seventies se misturam com padrões futuristas, num revivalismo juvenil de colagem de mosaicos, mesmo ao lado, uma velhíssima senhora, com um penteado impecável anos cinquenta procura um espaço para se sentar. O que há de mais encantador na figura escorrida é o desenho das sobrancelhas, um finíssimo traço a lápis preto define o enquadramento do olhar, estilo Marlene Dietrich, a saia de pregas, impecável, que ela alisa mesmo assim em gestos lentos enquanto ouve a balada, e ao lado os turistas, os casais improváveis, mendigos árabes a fingirem estátuas, uma puta velha de meias de rede, a cobiçar umas brincos de quinquilharia e uma dourada luz mediterrânica a embalar tudo.

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