A irmâ Assumpta ( é assim que se escreve?) tinha um carregado sotaque italiano. Magra e alta desfilava entre açucenas quando fazia mais frio. Tocava comigo partituras a quatro mãos depois de me ajeitar uma almofada para eu chegar ao teclado. Tinha orgulho na miúda de cinco anos e ensinava-me completamente de graça, só pelo prazer de ver o que eu aprendia. Uma vez vi-a chorar em silêncio mas não me disse porquê. Era muito bondosa.
Deixei de a ver durante uns meses e disseram-me que morreu de um mal-na-barriga. Fiquei triste. Não sabia que as freiras, ainda por cima assumptas, também morriam novas de males-da-barriga, que era um eufemismo para falar daquelas inconfessáveis maleitas graves das senhoras. Mais tarde continuei a estudar piano a sério, ou seja, a pagar, mas lembro-me sempre daquelas primeiras pautas.
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