segunda-feira, janeiro 10, 2011

O ruidoso silêncio na morte de carlos castro

A morte violenta de um velho homossexual às mãos de um jovem psiquiatricamente instável é sempre uma notícia perturbadora.
Perturbadora porque a morte hedionda da vítima suscita inevitavelmente um sentimento de profundo horror e compaixão. Mas também porque o agressor suscita precisamente o mesmo sentimento - um jovem provavelmente doente envolvido numa teia de pressões para atingir a fama.
Mas o mainstream intelectual  e político não se pronuncia sobre minudências destas. Um silêncio ruidoso envolve sempre estas mortes castradas de velhos pederastas ás mãos dos seus neófitos. O crime servido como fait divers picante das revistas cor-de-rosa é uma forma de negação da  realidade.
Porque sob  este brilho macabro das lantejoulas da fama, há uma realidade emergente que que se torna banal. Uma nova cultura que grassa em certos meios da sociedade portuguesa - particularmente entre jovens pouco qualificados, de classe média baixa, sem perspectivas de trabalho ou de carreira.
O sonho vendido às postas do êxito fácil, da atitude boçal, do não-esforço como forma de vida. A mentalidade dominante é que vale tudo, definitivamente tudo, para obter protagonismo, fama, subir na carreira, conseguir exposição mediática. O desemprego, o facilitismo ou uma certa ideia disseminada pelos media de que o esforço pessoal, o trabalho honesto e a competência não são determinantes para a realização profissional. Num sistema social em que formas subreptícias dos pequenos poderes ganham protagonismo, a corrupçãozinha, a cunha, os amiguismos e conhecidos, a prostituição surge algo como aceitável e legítimo ou até como algo inevitável para atingir o sucesso. Programas de grande audiência como a casa dos segredos seguem esta linha - em que os grandes geróis mediáticos são jovens inúteis, prostitutas de luxo, ou pequenos proxenetas de província apresentados como "herós nacionais".

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