Bonpetit
Foi assim que a vida de rodrigo conheceu a sua maior revelação. Foi precisamente nesse dia.
Bonpetit levou-o ao colo até à última escada do avião, entre malas e bagagens, onde o entregou ao colo da mãe.
Na altura rodrigo não percebeu muito bem porque é que Bonpetit não entrava e se sentava ao seu lado, como fazia todos os dias, desde que se lembrava de existir. Sentiu-o hesitar com um tremor, uma ligeira crispação do corpo, antes de o entregar, como se fosse mais uma bagagem ou um objecto frágil que se pensa duas vezes antes de pôr nas nãos de outro alguém.
Não percebeu muito bem as palavras com que Bonpetit enrolava uma última saudação (ou seria bênção de despedida?) em lingala e aquele sussurro acompanhou-o durante todo o voo. Bonpetit era sentinela- chamavam-lhe assim porque a tarefa era guardar a casa ou as lojas ou os meninos, consoante a disposição do patrão, e ali ficava horas, às vezes durante a noite, catana ao lado, a fumar, à espera que nada acontecesse. Rodrigo lembrava-se sempre das suas gargalhadas ruidosas, que enchiam a tarde, um riso a cair em cascata do alto do seu metro e noventa – e os miúdos a apanhá-lo cá em baixo, como contas de vidro - porque Bon-Petit era um gigante negro, enorme, com dois traços verticais tatuados na cara, a alcunha jocosa provinha precisamente daí, ou talvez fosse porque os brancos lhe confiavam a guarda dos filhos, já que ele era bom para as crianças, paciente, aturava-lhes as birras e as manias de meninos mimados, fiel como um cão, dizia o patrão.
- Não me lembro de mais nada dessa longa viagem para Portugal – disse Rodrigo. Nada, a não ser o olhar de Bonpetit, as palavras confusas da sua bênção de despedida - era uma bênção, sei-o hoje – e de adormecer sossegado ao colo da minha mãe, por perceber, na imensa sabedoria dos meus cinco anos, que, apesar de não ter entrado no avião, a sombra protectora de bonpetit estava algures por ali, a fumar o seu cigarro enrolado de fim do dia.
Foi assim que a vida de rodrigo conheceu a sua maior revelação. Foi precisamente nesse dia.
Bonpetit levou-o ao colo até à última escada do avião, entre malas e bagagens, onde o entregou ao colo da mãe.
Na altura rodrigo não percebeu muito bem porque é que Bonpetit não entrava e se sentava ao seu lado, como fazia todos os dias, desde que se lembrava de existir. Sentiu-o hesitar com um tremor, uma ligeira crispação do corpo, antes de o entregar, como se fosse mais uma bagagem ou um objecto frágil que se pensa duas vezes antes de pôr nas nãos de outro alguém.
Não percebeu muito bem as palavras com que Bonpetit enrolava uma última saudação (ou seria bênção de despedida?) em lingala e aquele sussurro acompanhou-o durante todo o voo. Bonpetit era sentinela- chamavam-lhe assim porque a tarefa era guardar a casa ou as lojas ou os meninos, consoante a disposição do patrão, e ali ficava horas, às vezes durante a noite, catana ao lado, a fumar, à espera que nada acontecesse. Rodrigo lembrava-se sempre das suas gargalhadas ruidosas, que enchiam a tarde, um riso a cair em cascata do alto do seu metro e noventa – e os miúdos a apanhá-lo cá em baixo, como contas de vidro - porque Bon-Petit era um gigante negro, enorme, com dois traços verticais tatuados na cara, a alcunha jocosa provinha precisamente daí, ou talvez fosse porque os brancos lhe confiavam a guarda dos filhos, já que ele era bom para as crianças, paciente, aturava-lhes as birras e as manias de meninos mimados, fiel como um cão, dizia o patrão.
- Não me lembro de mais nada dessa longa viagem para Portugal – disse Rodrigo. Nada, a não ser o olhar de Bonpetit, as palavras confusas da sua bênção de despedida - era uma bênção, sei-o hoje – e de adormecer sossegado ao colo da minha mãe, por perceber, na imensa sabedoria dos meus cinco anos, que, apesar de não ter entrado no avião, a sombra protectora de bonpetit estava algures por ali, a fumar o seu cigarro enrolado de fim do dia.
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