terça-feira, julho 03, 2012

A boa morte

As pessoas dizem-me:  " Por isso é que não quero ter um cão. Quando morrem sofremos muito e é um trauma para as crianças".
Percebo. Podiamos fazer o mesmo discurso sobre as pessoas que amamos ou tantas outras coisas que são precárias, como a vida, o amor, os sonhos , as relações de amizade, os projectos de trabalho. Tudo finito. Tudo tão frágil.Tudo tão passível do nos provocar dores e perdas.
A questão de fundo é - devemos evitar os nossos próprios lutos? Devemos impedir as crianças de viver processos de luto?
No nosso mundo seguro e organizado desta metade norte do planeta, a  morte de um animal de estimação  é o primero contacto de uma criança com a morte e a perda de alguém amado. Muitas vezes é o primeiro contacto real com estas emoções mais fundas e com os rituais de esconjuramento de morte. Já tive de fazer funerais a sério a peixes de aquário e a hamsters. O esconjuro da morte, os rituais de permanência, a  despedida. São no fundo experiências mitigadas de dor e perda que as crianças vivem ultrapassam sem sobressaltos e que as podem preparar para perdas maiores quando forem adultas. Construção de resiliência, mecanismos de coping, o que quiserem. Não é normal uma sociedade que funciona como se a morte não existisse. Não é normal que para as crianças do mundo de hoje a morte seja apenas um jogo de computador ou a irrealidade de filmes violentos no youtube.

É preciso educar para a finitude, para a fragilidade.


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