«Deus é Pai, mas é sobretudo Mãe». Quando João Paulo I disse esta frase, em 1978, as suas palavras devem ter ferido alguns “ouvidos piedosos”. No entanto, o papa falava de um tema profundamente bíblico. Quer dizer: também encontramos na Bíblia traços femininos de um Deus que, tradicionalmente, é apresentado com rosto masculino. Porquê um Deus ‘feminino’? Os termos ligados à misericórdia de Deus têm características femininas. Ao falar de Deus-Pai encontramos termos que significam o seu amor pela Humanidade: misericórdia, amor, fidelidade. Mas a imagem de um Deus masculino, caracterizada pela autoridade, prevaleceu sempre sobre as da bondade e misericórdia, vistas como femininas e, portanto, “impróprias” de Deus. E ainda é essa a imagem que hoje encontramos por toda a parte, tanto nas expressões artísticas como na linguagem de certa pastoral. Os movimentos feministas em geral recusam este Deus, ou melhor, esta imagem de um Deus apenas masculino. Alguns autores chegaram, mesmo, a negar Jesus Cristo como Filho de Deus, pelo facto de Ele se manifestar como Homem; como se esta linguagem masculina, que se utiliza para falar de Deus, fosse impedimento à presença de Deus em Jesus. Na nossa herança religiosa, a imagem de Deus como Pai influiu profundamente na vida das mulheres, gerando nelas dependência e infantilismo na relação com o homem. As teorias feministas, aplicadas à Bíblia, criaram assim a suspeita de que ela não estaria dentro da dinâmica dos direitos humanos, pelo menos no que diz respeito à salvaguarda dos direitos da mulher."
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