Dos "protectores" das famílias cristâs, livrai-nos Senhor

Uma organização ultraconservadora  de extrema direita está fazer uma campanha para que os Estados Unidos não ratifiquem a Convenção de Direitos das Crianças, da ONU.  Convenção esta ratificada por mais de 189 países, incluindo Portugal.

Michael Farris , Presidente de uma organização radical - ParentalRights.org - que pretende ser um arauto da defesa dos direitos das famílias segundo "valores cristãos", contra o casamento homossexual, os direitos das mulheres, a contracepção, o aborto  e todas as formas de procriação medicamente assistida- tem feito uma acesa campanha contra os direitos das crianças defendidos na referida convenção.

Os motivos apontados são:

A vinculação a este tratado pode restringir a liberdade dos pais americanos poderem espancar livremente   as crianças ou de estas serem escolarizadas em casa, ou mesmo proibir que  jovens e menores sejam condenados à pena de morte. A Crianças iriam adquirir um direito legalmente protegido ao bem-estar e lazer. As crianças iriam ter acesso a programas de educação sexual e informações sobre contracepção.

Do verbo

Palavras que enlanguescem em pétalas aluadas

enroladas nas pernas e no dorso,
pequenas víboras ácidas
a venenosa esperança.
Palavras que são coisas sólidas
 amontoadas nos cantos
dos pedaços de nós
Palavras que se desmontam e decompõem,
que se arrumam e ganham formas
Legos, gárgulas tecidos, esforços antigos, carne

Palavras arrancadas ao corpo uma a uma
à custa de facas, goivos, músculos, lavras
Palavras
grupos arredondados de aquosas dúvidas
veias perfuradas no silêncio da alma
sombrios nichos de reclusão excitada

Um Deus mãe

«Deus é Pai, mas é sobretudo Mãe». Quando João Paulo I disse esta frase, em 1978, as suas palavras devem ter ferido alguns “ouvidos piedosos”. No entanto, o papa falava de um tema profundamente bíblico. Quer dizer: também encontramos na Bíblia traços femininos de um Deus que, tradicionalmente, é apresentado com rosto masculino. Porquê um Deus ‘feminino’? Os termos ligados à misericórdia de Deus têm características femininas. Ao falar de Deus-Pai encontramos termos que significam o seu amor pela Humanidade: misericórdia, amor, fidelidade. Mas a imagem de um Deus masculino, caracterizada pela autoridade, prevaleceu sempre sobre as da bondade e misericórdia, vistas como femininas e, portanto, “impróprias” de Deus. E ainda é essa a imagem que hoje encontramos por toda a parte, tanto nas expressões artísticas como na linguagem de certa pastoral. Os movimentos feministas em geral recusam este Deus, ou melhor, esta imagem de um Deus apenas masculino. Alguns autores chegaram, mesmo, a negar Jesus Cristo como Filho de Deus, pelo facto de Ele se manifestar como Homem; como se esta linguagem masculina, que se utiliza para falar de Deus, fosse impedimento à presença de Deus em Jesus. Na nossa herança religiosa, a imagem de Deus como Pai influiu profundamente na vida das mulheres, gerando nelas dependência e infantilismo na relação com o homem. As teorias feministas, aplicadas à Bíblia, criaram assim a suspeita de que ela não estaria dentro da dinâmica dos direitos humanos, pelo menos no que diz respeito à salvaguarda dos direitos da mulher."

Herculano Alves Revista Bíblica, Março-Abril 1999, nº 261, pp. 341-358, sob os títulos Deus-Pai e Deus-Mãe.

Estado de sítio

Esmagados pela ideologia neoliberal, vendidos aos bocados a países despóticos e ditatoriais  - China e Angola são só o início - os portugueses estão no meio de uma guerra económica sem quartel e nas mãos de jovens turcos incompetentes.

Cyberteologia

"Falar de mística feminina tem tanto sentido como falar de matemática feminina. Por isso a mística de todos os tempos e de todas as culturas – de Plotino aos nossos dias, de Eckhart a Sankara etc. – é quase idêntica e, por isso, as obras das grandes mulheres místicas não têm características “femininas”. Precisamente o caso do Espelho das almas simples, de Marguerite Porete, é emblemático: antes que Romana Guarnieri descobrisse a autora, pensou-se durante séculos que fosse obra de um homem, e como tal foi publicada em inglês e foi lida, por exemplo, por Simone Weil . Quando se vai ao específico “feminino”, o espiritual recai no psicológico, e então temos os exemplos das mulheres que acreditavam estar grávidas de Jesus, sonhavam em aleitar Jesus menino etc., onde o místico recai no patológico e pode aparecer – como talvez o seja, de fato, nesses casos – como o substituto de uma vida plenamente vivida. Não por acaso aqueles homens – mas, sobretudo, aqueles mulheres, porque quase sempre é delas que se trata – que tiveram experiência de matrimônio (por exemplo, santa Catarina de Gênova ou Madame Guyon , mas também Angela de Foligno), quase nunca utilizam o simbolismo e os termos “esponsais” da mística chamada “nupcial”, para não misturar corpo e alma com espírito, que, como ensina ainda o Apóstolo, é o seu oposto.

Marco Vannini

Paco Bandeira - em julgamento

Estar sob julgamento de um crime grave não deveria ser motivo de piadolas fáceis, poses para revistas da socialite ou reportagens fotográficas de promoção. Paco Bandeira, cujo julgamento decorre, responde por crimes de maus tratos, violência doméstica, devassa da vida privada e posse de arma proibida. Não é coisa pouca. Muito mais se está envolvida uma filha menor, também ela vítima de maus tratos e se o arguido já tem no rol o obscuro suicídio da anterior mulher que não a actual vítima. Mas, em vez de se apresentar em tribunal com uma atitude preocupada ou mesmo de vítima compungida  ( caso fosse acusado sem razão), a criatura trannsformou o julgamento  de crimes graves num evento para a revista Caras, com gargalhadas, poses para fotógrafos e piadas sobre bater em mulheres. E fez-se acompanhar de uma tal  "namorada"  loira (embora na sua página do Facebook apareça que continua interessado em mulheres).O marialvismo pacóvio dá nisto: ser acusado de espancar e torturar mulheres são coisas menores que devm ser tratadas com risadinhas. Esperemos que o  colectivo de juízes do tribunal de Oeiras faça justiça.

A anedota do dia

Há muito de novoriquismo no poder recém-conquistado. Pequeno-burgueses da intelectualidade coleccionam  tiques de tiranete assim que podem escolher as poltronas simbólicas do poder quotidiano. Assistir à ascenção da mediania tem destes pequenos gozos de espectador cinéfilo.

Eu tenho um amor feinho

"Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."


Adélia Prado

Violem as mulheres porque elas merecem

     A despenalização do aborto dá aos homens o direito a violar mulheres sem qualquer limite. Assim vomitou  um bispo espanhol, na homilia natalícia.

"Eso le da a los varones la licencia absoluta, sin límites, de abusar del cuerpo de la mujer, porque latragedia se la traga ella, y se la traga como si fuera un derecho: el derecho a vivir toda la vida apesadumbrada por un crimen que siempre deja huellas en la conciencia y para el que ni los médicos ni los psiquiatras ni todas las técnicas conocen el remedio."

Se eu fosse mesmo mázinha, diria que os bispos que assim falam deviam ser sodomizados à bruta .O  problema é que se calhar gostavam...

Colón, pensamiento integrista sobre la familia cristiana :: Opinión :: Religión Digital

Colón, pensamiento integrista sobre la familia cristiana :: Opinión :: Religión Digital

Dia de Reis

Na polícia, um grupo de ciganos romenos  tentava resgatar um carro que diziam ter sido roubado. Chegaram num grupo de seis - quatro homens e uma mulher com um menino no colo.
 Eles barrigudos e de dentaduras reluzentes de ouro, como os piratas, a  mulher loura, mais jovem, quase criança,  com um colorido lenço eslavo a tapar-lhe o cabelo todo. Uma cena digna de Kusturika que acabou em olhares cúmplices e gargalhadas. “Já não nos basta ser pobres ainda nos roubam o carro”, desabafava o cigano, num espanhol enrolado, para o polícia. " È que há ciganos que não são ciganos", concluiu.
O polícia  parecia não acreditar na história. Mas afinal quem é o proprietário do veículo? È dela, apontou o homem e a rapariga deu um passo em frente, sorriu a ali ficou de olhos no chão, o miúdo agarrado aos seios, com ar de quem nunca pegou num volante. Os homens acenderam cúmplices cigarros enquanto esperavam o desenrolar das burocracias policiais. O mais novo, cabelos pretos a escorrer oleosidade, risco ao lado milimetricamente traçado, abraçou a criança com um ar protector. A mulher, de pé, aguentou o frio na rua durante os 45 minutos da peritagem ao interior do carro, todo escavacado.
Era muito bonita e a criança também. A mãe dava-lhe abraços e beijos na face enquanto lhe falava doçuras em romeno, numa cena de presépio. 
De repente percebi - um cigano era o josé, os outros deviam ser os reis magos, de risos coruscantes.

Sexta-feira

Devemos tricotar ardilosamente os dias.

A direita católoca e o neonazismo

A Hungria mergulha numa ditadura de extrema direita, aparentemente sem retorno.Através de uma mudança constitucional todos os sistemas de controlo democrático foram eliminados, e a democracia terminou. Hitler fez o mesmo para controlar a Alemanha. De resto, desde há largos meses que milícias neonazis controlam as ruas e entram em confronto com grupos étnicos minoritários. A Constituição da Hungria ambém  que decreta o embrião é como ser humano desde a concepção, impedindo a legalização do aborto terapêutico, algo tão desumano como a sharia islãmica.

Milhares de pessoas manifestarem-se ontem em Budapeste contra o fim da democracia.

Silêncio

Os peixes são pássaros estranhos sob o céu. A minha vida íntima faz parte deste relicário de subversão mitológica, peixes que experimentam voos, pássaros aquáticos debaixo das ondas, banhos de sol matinais com  a obrigatoriedade das tarefas inevitáveis.