Não deixa de ser impressionante a indiferença social dominante face ao generocídio em Portugal.
O homicídio de mulheres pelos seus extremosos companheiros, maridos e pais dos seus filhos agudiza-se sempre no Verão, durante as férias, como se abrisse a época da caça. Porquê? Porque, ao contrário dos que tecem ladainhas aos idílios domésticos da conjugalidade, durante o resto do ano as mulheres trabalham e os homens também , as crianças estão mais ou menos entregues aos cuidados escolares e é menor o tempo passado junto dos abusadores. Trabalhar fora de casa protege as mulheres, mas infelizmente, durante as férias, são obrigadas a conviver mais tempo e mais de perto com os algozes. Estão sozinhas no matadouro, ou seja no sacrossanto lar.
Só esta semana já foram três, mas atenção que a semana não terminou.
Não se percebe esta indiferença, esta pasmaceira nacional perante um generocídio certo e cada vez mais sádico. A morte destas mulheres assassinadas pelos maridos é cada vez mais violenta e atroz, não são mortes "simples" ou acidentais, as mulheres são degoladas, regadas com ácido, esventradas com facas, baleadas várias vezes, mesmo com filhos pequenos ao colo.
Os homicidas, tranquilos, vão em seguida entregar-se às autoridades, sabendo que o castigo é leve e que em alguns meios machistas têm até a complacência dos heróis e que esta complacência nacional está para ficar.
A violência contra as mulheres é a expressão radical do machismo que ainda grassa por aí, na nossa sociedade de bons valores familiares, brandos costumes, fados, toiros e bola, marialvismo saloio.
E não vejo nenhuma tomada de posição pública, nem da Igreja Católica, nem das associassõezecas pela vida que andam por aí de terços na mão a dizer que são feministas e até defendem os direitos das mulheres, nem de instituições de solidariedade social, nem das doutoras tétés, nada, nadinha, isto é tudo normal, desde que as fêmeas vão procriando e parindo, está tudo segundo as leis naturais do bom deus.
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