Foi há pouco tempo, em Barcelona. Numa belíssima catedral. Cá fora, um tempo tórrido, a habitual litania de turistas. Entrei na escuridão da catedral, de uma frescura húmida e luminosa a lembrar oásis escuros e comecei a percorrer o espaço, com a lentidão sonolenta do fim do dia.
Por coincidência ia acompanhada pelo meu marido e dois amigos - ambos padres. Aproximei-me da parte central da cripta, para apreciar o altar-mor. De repente sou surpreendida por uma mulher porcina que se levanta de um banco lateral e se dirige a mim, ofegante, vociferando. Ainda pensei que tinha penetrado numa zona restrita a turistas ou em obras de restauro e que a aflição violenta da mulher se devia a isso. Mas não. Os gestos obscenos e a tentativa de expulsão deviam-se à minha roupa - por algum motivo tinha infringido um qualquer dress code religioso da moralistóide beata. Convenhamos que eu estava vestida de uma forma extremamente discreta - calças compridas, uma blusa de alças, decote normal. Nem outra coisa me passaria na cabeça naquele contexto turístico - ainda para mais rodeada de dois padres amigos idosos que ficaram eles próprios perplexos com a explosão da beata.
Senti-me de repente insultada e quase nua no meio da catedral.
Depois percebi - e comecei a rir. A beata devia ser lésbica e excitou-se com a pele dos meus ombros.
Lembrei-me deste incidente ao ler isto. Há um elemento de fundo larvar nestas coisas moralistóides que lembram o ressurgimento de antigos monstros.
2 comentários:
Aconteceu-me precisamente o mesmo em São Pedro - Vaticano. Estava eu vestida com um vestido clássico azul escuro, sem qualquer decote, apenas caveado (temperatura em Roma 38 graus. Fui impedida pelos seguranças de entrar. Claro que armei um escarcéu e apeteceu-me logo dispersar. Quem comigo estava, sabendo o meu calibre face a este tipo de situações, lá me convenceram a entrar mascarada. Então ridículo do ridículo entrei com uma pólo de homem por cima do vestido e neste despudor asqueroso, lá contemplei uma Pietá também ela farta de estar naquele antro.
Sim, há qualquer coisa de asqueroso neste aparente pudor religioso. No fundo são a mesma face das burkas islâmicas - os mesmos valores, o mesmo ódio ao corpo das mulheres, a mesma misoginia frustrada...
Forte abraço
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