Acordo de madrugada a sonhar com palavras.Levanto-me sonâmbula de números e sento-me ao computator. São cinco horas, a cidade ainda nem respira. Um trabalho infindável de paginação, revisão de gralhas, formatação. Trezentas páginas vão-se alinhando no texto final, a bibliografia está deixar-me louca.
Ao meio dia tenho a sensação de ser um escravo acorrentado às galeras. As mãos doem-me , devo ter uma tendinite no pulso direito. Uma semana de trabalho intensivo.
A análise estatística está concluída e revista.
Às 16 horas discuto com um colega perito em estatística, vai prestar as provas de doutoramente em setembro. Deixa-me duas ou três sugestões formais na apresentação de gráficos e tabelas. São cento e tal.
Escrevi o último parágrafo e juro que não acrescento mais nada.
Quatro anos de pesquisa que terminam assim:
"Os fluxos migratórios internacionais têm tendência a aumentar exponencialmente e a diversificar-se, constituindo um desafio para a sociedade portuguesa enquanto sociedade de acolhimento, ponto de chegada e partida de novas diásporas.
Estas novas formas de redes de sociabilidade e de criação de identidades num mundo global é uma experiência de desapropriação e da incerteza do encontro de alteridades, de abertura à imprevisibilidade do mistério do outro e dos outros."
Sem comentários:
Enviar um comentário