terça-feira, agosto 19, 2008
Férias
Ontem estive do lado mais ameno do mediterrâneo, onde o sol nasce esventrado directamente do mar. Fica-se uns segundos na espera que tanta luz nascente deixe de desaguar na água, se encaracole na nossa nuca e nos escorra nas mamas até queimar a pele em tons dourados; barcos estrelam a placidez da água em soluços claros Hoje acordei assim, com um desejo intenso de morrer; coisa que acontece aos poetas de vez em quando; nada de feérico e tão banal como uma constipação..
quarta-feira, agosto 06, 2008
Lost in translation
O que existe de mais inútil nas férias é a procura de acentos em teclados estranhos. Estamos demasiado habituados aos dedos das sombras dos teclados onde o nosso cérebro mecanicamente reconhece as letras ainda antes de as pressionarmos. Do vazio absoluto do amor ou da espécie de fingimento anestesiado em que todos mais ou menos vivemos; esta busca de acentos nu, teclado estrangeiro é quase uma metàfora existencial; sobretudo quando estamos rodeados de pessoas estranhas incapazes de um diálogo minimamente interessante, incapazes de beberem a nossa essência ou o sentirem na pele o que nos move. Pessoa que nos limitam o respirar, os sussurros dos sonhos nas suas teias narcisistas; pessoas que se limitam a vampirizar emocionalmente os outros, e os destroem lentamente. Há gente assim; enleada em teias de egoísmo perturbado, em que a religiosidade doentia e obsessiva nada mais é que um esforço patético de uma espécie de masturbação mística. Á falta de orgasmos rezam novenas e coleccionam escapulàpios e fazem peregrinações.... Puta que os pariu a todos.
Respirar
Tenho pensado muitas vezes nas pessoas que encontrei nestes percurso. Rostos, nomes, fragmentos de histórias, sonhos, palavras que ganham outros significados. Como se a utopia se fosse tornando possível à medida que percorremos as etapas de construção de um projecto. Houve momentos em que pensei que que não fosse possível.
E mesmo agora, parece-me incompleto.
como fazer uma tese
Acordo de madrugada a sonhar com palavras.Levanto-me sonâmbula de números e sento-me ao computator. São cinco horas, a cidade ainda nem respira. Um trabalho infindável de paginação, revisão de gralhas, formatação. Trezentas páginas vão-se alinhando no texto final, a bibliografia está deixar-me louca.
Ao meio dia tenho a sensação de ser um escravo acorrentado às galeras. As mãos doem-me , devo ter uma tendinite no pulso direito. Uma semana de trabalho intensivo.
A análise estatística está concluída e revista.
Às 16 horas discuto com um colega perito em estatística, vai prestar as provas de doutoramente em setembro. Deixa-me duas ou três sugestões formais na apresentação de gráficos e tabelas. São cento e tal.
Escrevi o último parágrafo e juro que não acrescento mais nada.
Quatro anos de pesquisa que terminam assim:
"Os fluxos migratórios internacionais têm tendência a aumentar exponencialmente e a diversificar-se, constituindo um desafio para a sociedade portuguesa enquanto sociedade de acolhimento, ponto de chegada e partida de novas diásporas.
Estas novas formas de redes de sociabilidade e de criação de identidades num mundo global é uma experiência de desapropriação e da incerteza do encontro de alteridades, de abertura à imprevisibilidade do mistério do outro e dos outros."
Ao meio dia tenho a sensação de ser um escravo acorrentado às galeras. As mãos doem-me , devo ter uma tendinite no pulso direito. Uma semana de trabalho intensivo.
A análise estatística está concluída e revista.
Às 16 horas discuto com um colega perito em estatística, vai prestar as provas de doutoramente em setembro. Deixa-me duas ou três sugestões formais na apresentação de gráficos e tabelas. São cento e tal.
Escrevi o último parágrafo e juro que não acrescento mais nada.
Quatro anos de pesquisa que terminam assim:
"Os fluxos migratórios internacionais têm tendência a aumentar exponencialmente e a diversificar-se, constituindo um desafio para a sociedade portuguesa enquanto sociedade de acolhimento, ponto de chegada e partida de novas diásporas.
Estas novas formas de redes de sociabilidade e de criação de identidades num mundo global é uma experiência de desapropriação e da incerteza do encontro de alteridades, de abertura à imprevisibilidade do mistério do outro e dos outros."
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