quarta-feira, fevereiro 21, 2007


Dª Elvirinha morreu a semana passada. Deixou de passear pelos corredores em longas marchas intermináveis, rosto esguio, olhar impenetrável, um tom de voz imponente, lencinho cuidadosamente enrolado á volta do pescoço, e as bijouterias compradas na feira que ela exibia como jóias.
Mais do que o penteado irrepreensível , Dona Elvirinha exibia uma pose de aristocrata embevecida, nunca se soube ao certo se fruto de algum delírio de grandeza se resquícios de um passado obscuro.
Nada de sorrisos fáceis, de convívios excessivos ou demasiadas futilidades com as outras internadas com quem partilhava o espaço de confinamento existencial do manicómio… Vinte, trinta, quarenta anos de internamento numa instituição psiquiátrica transformam o internado num produto da instituição, normativizando as condutas e a identidade. Mas Dºa Elvirinha evitava a normalidade, as provocações ou as pequemas maledicências institucionais com uma frase única : Eu sou uma senhora. E estava tudo dito.

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