quarta-feira, março 03, 2010

São fêmeas, mais nada

"o (meu) principal problema com esta campanha - e aqui refiro-me ao cartaz - é a mensagem veiculada: mostra parte de um corpo de uma mulher (que vai do peito e pára mesmo por baixo da cintura - o resto já não interessa, está a preto); uma mulher sem cara, de roupão, com uma mini por baixo do cordão e com as frases "é só puxar; nova abertura fácil; o prazer é todo seu (do homem)". Não me venham dizer que estas frases se referem só à cerveja e que nada têm a ver com o que está por trás. A associação que é feita pela publicidade procura precisamente relacionar, nem que seja no imaginário do consumidor, os dois.
 Trata-se sim, a meu ver, de sexismo explícito: o corpo de uma mulher sem cara, que não é sujeito, ao serviço do homem para o seu Único prazer, do qual ele pode dispor à vontade e muito facilmente, e sobre os efeitos dessa mensagem. [Já agora: sexismo porque também redutor para os homens, o que está ali hipra representado é o heterossexual, que vê ou associa sexo em tudo e para quem o triângulo cerveja, bola, mulher comanda a sua vida].
(O meu incómodo ) Está sim na desigualdade das relações de poder que lhe está inerente e que também por se tratar de mulheres deve merecer bem mais atenção (e crítica - cultural). Não por sermos umas "coitadinhas", mas porque foi precisamente o "nosso corpo" que serviu em grande medida de motivo para justificar séculos de opressão (e bem antes do capitalismo) e de desigualdade. Foi nele ou através dele que tudo começou e se perpetuou. Foi (e é, muito muito menos claro) nomeadamente por termos formas, peito, vagina, ovários (por causa da maternidade) e por entre um homem e uma mulher, aquando o acto sexual, sermos nós as penetradas, que fomos, de diferentes formas, durante séculos, remetidas para a esfera privada, sujeito passivo, sem direitos, cujo destino era o de estar ao serviço do homem, de ser mães, objectos decorativos e para o prazer de outrem, que a nossa atenção e leitura deve ir mais além porque esta, como outras, publicidade é "situada". Situada em sociedades que têm este LONGO histórico e que apesar da emancipação e afirmação das mulheres, da consagração da igualdade de direitos, e de todo e do longo caminho percorrido, ainda não deixaram de ser sociedades patriarcais."

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