sexta-feira, setembro 14, 2012

São Francisco III

Um dia, o Chico-polícia, amigo de jornas e bancos de escola, veio visitá-lo com um embrulho de jornal debaixo do braço. Queria falar com ele, com urgência. Atarantadas, as raparigas lá o arranjaram para a visita, aflitas com o prenúncio de alguma má notícia. A mais nova correu a chamar a mãe, na labuta do campo. Eram  nove da manhã.
Chico-polícia chegou ao pé do amigo, no quarto escuro. Os lençóis brancos passados a rigor com o ferro com brasas dentro; um suave cheiro a criolina misturado com o perfume barato dos acamados. Uma réstea de luz passava pela porta entreaberta e deixava adivinhar o vulto de Francisco, um pouco embatucado com a exuberância do outro.
- Aguenta-te homem, que te trago uma prenda!
E debaixo do braço arrancou um transistor a pilhas.
E quando a mulher, esbaforida e descalça , mais morta que viva,  entrou em casa, uma névoa de música saía do quarto. Com o transístor colado ao ouvido, Francisco chorava. Foi a primeira vez que viu o seu homem chorar.

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