terça-feira, março 31, 2009

"O equivalente japonês do termo latino lente festina, [«apressa-te devagar»], diz-se de modo parecido: “se tens pressa, vai dar uma volta”. Em castelhano, dizemos: “vísteme despacio, que tengo prisa” ou “no hay atajo sin trabajo”. Na tradição do artesanato japonês fala-se de “atitude de artesão” como de um estilo e modo de trabalhar próprio de quem põe nisso toda a sua alma, gastando tempo em cada detalhe da sua obra, produzindo cada objecto como se fora exemplar único... Recordo a conversa com um jardineiro de uma vila de recreio imperial no norte do Japão. “Vê estes pinheiros todos retorcidos?”, dizia-me ele. “A sua mais bela imagem é a que oferecem quando se vergam, sem quebrar-se, ao peso da neve”. “Não precisam de estacas?”, perguntei-lhe. Explicou-me: “Custou muito esforço e muitos anos até se conseguir uma curvatura como a deste ramo. Desde que o pinheiro começou a crescer, foram podando-o com habilidade. Se o ramo está comprido demais, cairá ao peso da neve; se ficar muito curto, não produzirá um efeito tão belo”. Diante do meu espanto mudo, o jardineiro ria-se e repetia-me: “É tudo uma questão de fazê-lo devagar, senhor; dar tempo ao tempo e... muita paciência”.Não se acelera o crescimento duma planta puxando-a com força para cima: assim, só conseguiríamos arrancá-la e desenraizá-la.

Todo o organismo vivo tem seu ritmo. O espírito do taoismo só tem que se sintonizar com o Tao, caminho que a tudo orienta. “Deixa que tudo siga o seu curso natural”. Estamos convidados, assim, a abandonar o nosso egocentrismo, a viver em comunhão com a natureza e a descobrir o Caminho no prosaico e no quotidiano, enquanto caminhamos... lentamente.

Para a atitude ocidental da pressa e da aceleração é dificilmente aceitável o convite taoista ao «não-actuar». Provoca rejeição, pois parece que se trata de não fazer nada e deixar-se de braços cruzados. Mas não é. Pelo contrário, trata-se de nos conscientizarmos do muito que se pode fazer deixando que isso se faça por si, deixando estar as coisas aí e deixando passar os acontecimentos. Sobretudo, deixando que as pessoas sejam..."

in, Caminos Sapientiales de Oriente, por Juan Masiá Clavel, SJ, Ed. Desclée De Brouwer, 2002.

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