domingo, março 27, 2011

Vem, Noite antiquíssima e idêntica



 "Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real."

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática

sábado, março 26, 2011

Até no silêncio há fulgor.

"Até no silêncio.
Os padres do deserto tinham por hábito acolherem numa hospitalidade silenciosa, quando acolhiam um amigo que não viam há muitos anos, não lhe diziam nada.
Explicavam: se o meu silêncio não te acolher, a minha palavra ainda menos.
Isto para dizer que há novas ritualidades..
. Queiramos ou não as imagens e palavras gastam-se.
Os discursos envelhecem."
 
Tolentino de Mendonça.
A entrevista pode ser lida integralmente aqui.

sexta-feira, março 25, 2011

As causas

"Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a "metade" das mulheres vale menos do que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.
A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade.
Ser feminista significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar ativamente que ela seja eliminada.
A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento ativo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador.  Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. As Novas Cartas Portuguesas, publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial. "Angola é nossa" era o correlato de "as mulheres são nossas (de nós, homens)" e no sexo delas se defendia a honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu o 25 de Abril, a revolução que tantos hoje desejam nunca tivesse acontecido.
A violência que a opressão sexual implica ocorre sob duas formas, hardcore e softcore. A versão hardcore é o catálogo da vergonha e do horror do mundo. Em Portugal, morreram 43 mulheres em 2010, vítimas de violência doméstica. Na Cidade Juarez (México) foram assassinadas nos últimos anos 427 mulheres, todas jovens e pobres, trabalhadoras nas fábricas do capitalismo selvagem, as maquiladoras, um crime organizado hoje conhecido por femicídio. Em vários países de África continua a praticar-se a mutilação genital. Na Arábia Saudita, até há pouco, as mulheres nem sequer tinham certificado de nascimento. No Irão, a vida de uma mulher vale metade da do homem num acidente de viação; em tribunal, o testemunho de um homem vale tanto quanto o de duas mulheres; a mulher pode ser apedrejada até à morte em caso de adultério, prática, aliás, proibida na maioria dos países de cultura islâmica.
A versão softcore é insidiosa e silenciosa e ocorre no seio das famílias, instituições e comunidades, não porque as mulheres sejam inferiores mas, pelo contrário, porque são consideradas superiores no seu espírito de abnegação e na sua disponibilidade para ajudar em tempos difíceis. Porque é uma disposição natural não há sequer que lhes perguntar se aceitam os encargos ou sob que condições. Os cortes nas despesas sociais do Estado atualmente em curso vitimizam em particular as mulheres. As mulheres são as principais provedoras do cuidado a dependentes (crianças, velhos, doentes, pessoas com deficiência). Se os doentes mentais são devolvidos às famílias, o cuidado fica a cargo das mulheres. A impossibilidade de conciliar o trabalho remunerado com o trabalho doméstico faz com que Portugal tenha um dos valores mais baixos de fecundidade do mundo. Cuidar dos vivos torna-se incompatível com desejar mais vivos."
Boaventura Sousa Santos

quarta-feira, março 23, 2011

Da verdade

"A ordem foi dada para derrubar o Governo. Porquê agora?
Pelos vistos, os senhores da guerra do PSD estão a cruzar três factores: a vitalidade das exportações, a boa execução orçamental e a luz ao fundo do túnel na Europa. O seu grande receio era o da plena realização desses processos, levando a que o Governo conseguisse tirar o País do estrangulamento financeiro. Nessa possibilidade, Sócrates entraria para a História como herói, e não voltaria a haver tão cedo outra conjuntura tamanhamente negativa como esta que atravessamos. Então, juntando-se a fome à vontade de comer, optaram por avançar já em direcção ao pote. 2

Valupi
uma vez, na rua, cruzei-me com um apanhador de conchas. tinha os olhos feridos pelo sal, as mãos abertas pelo ácido das marés os lábios gretados por versos inacabados. recitou-me fórmulas do campo; anunciou-me a verdade de antigas profecias. olhei para cima: e o céu continuava azul, como se nada se passasse. mas ele abriu o cesto das conchas; e um movimento de caranguejos mostrou-me o fundo da existência. talvez eu estivesse a falar com um morto; ou as suas palavras me distraíssem do verdadeiro significado das coisas."para que serve a poesia, afinal"? e continuou o seu caminho, para que eu seguisse o meu, como se nunca nos tivéssemos encontrado.



Nuno Júdice, "As coisas mais simples", Dom Quixote

Acolhimento

Os detalhes da abertura do ‘Pátio dos Gentios’, nova estrutura do Vaticano para o diálogo com os não crentes ( mais uma ideia de Bento XVI), cujo encontro inaugural decorre em Paris esta quinta e sexta-feira, estão disponíveis para consulta num site dedicado ao evento.

O encontro tem conferencistas de renome e pode ser acompanhado em directo aqui.

Os heróis de Chernobyl

Soldados, pilotos, operários. Sem equipamento de protecção eficaz , apenas com máscaras, lutaram até ao fim para conter a fusão do núcleo.
Todos os homens  que aparecem neste filme morreram devido à radiação.
Este é o último filme de Vladimir Shevchenko, repórter de imagem que julgava fazer a reportagem  da sua vida. Também ele morreu rapidamente.

Severe Days

Crazy taliban

Voris é um ridículo exemplo de nazismo católico.

A caça às bruxas parece ressurgir nos EUA sob a forma de bloggers alucinados.

Por cá há pelo menos um aspirante a Voris (com um ou dois efebos acólitos, como convém.).

segunda-feira, março 21, 2011

via sacra

o homem goteja sangue à medida que caminha.
pequenas pingas escuras - muito escuras  - dedilham o chão à medida dos seus passos deixando uma estranha pista de marcadores vermelhos.
já perto da porta, apercebe-se que sangra e,  aflito,  leva a mão ao rosto.
vejo-lhe o olhar sacramental de ovelha que vai para o matadouro.

( os doentes que passam evitam pisar o sangue com saltinhos de malabarista).

Hoje é o dia mundial da poesia

o mundo está cheio de poemas por dizer.

Coelho ao tacho

Depois da vénia à Sra Merkehl, o Coelho explica-se em inglês antes do tuga ver.
Uma vergonha.

Pois

"The majority of priests and cardinals have almost no sexual experience; no sexual understanding and have never had meaningful sexual relationships. No wonder they screwed up. I think they also know that large numbers of their own ranks are gay, and a subset of these people are so screwed up, so developmentally arrested in early adolescence and so pathological that they abused children and barely understood the evil they were perpetrating. I'm not excusing them. But when you have an institution so contorted over sexuality, these things can happen and it's the blind leading the blind. It won't change until the church reassesses its sex-phobia. Which it won't do because the only power is held by people who are invested in sexual panic. So the cycle continues. "

Andrew Sullivan

Católicos Conservadores

"Andrew Sullivan, é um gay inglês que vive na América, foi apoiante gay de Thatcher, condenou a invasão do Iraque de forma inequivocamente gay, define o conservadorismo como um sentimento de perda, citação um bocadinho gay de Burke, votou em Reagan, Bush e Kerry, percurso que me parece um pouco gay, e é "um católico devoto", obscurantismo hoje apenas tolerável a gays. Além disso, em matéria sexual é gay, informação que diz apenas respeito à sua vida privada mas que ponho aqui já nem me lembro porquê, e escreveu outros livros sobre homossexualidade, amor, amizade e casamento (gay, entenda-se)."

Coelhismo explicado aos pequeninos

"Algumas dessas personagens estão já muito contentes à espera do seu lugar de ministro e de secretário de estado, e, os favores que prestam às lideranças que eles próprios fabricam, serão certamente pagos. E o mais provável é que lá cheguem mesmo, empurrados também, pelas ambiguidades do 12 de Março. A gente séria que quer mudar, essa não tem votos nem dentro dos partidos, nem fora, se falar verdade. "

Pacheco Pereira

A passividade violenta

Continuo a ouvir loas ao comportamento nipónico em cenário de catástrofe - a ordem,  o rigor, a docilidade do povo às normas como tema encantatório de qualquer aspirante a Fuhrer que delicia os comentadores políticos.
Amelie Nothomb no livro Stupeur et tremblements descreve bem o que se passa sob um cenário idílico de funcionalidade organizada - a rigidez hierárquica, a violência sofisticada semiencoberta mas nem por isso menos  assassina. A posição social das mulheres no Japão nada tem a ver com a liberdade ocidental.
A nível da perversão sexual os japoneses batem pontos aos médios cidadãos europeus. Um país em que máquinas com moedas vendem roupa interior feminina usada ( de meninas adolescentes)  para excitação dos machos, tem qualquer coisa de muitíssimo obscuro.

Antes a histeria soalheira e desordeira dos povos mediterrânicos, a gritaria e o lamento face ao drama.

THEOLOGY

No, the serpent did not

Seduce Eve to the apple.

All that’s simply

Corrupcion of the facts.
Adam ate the apple.

Eve ate Adam.

The serpent ate Eve

This is the dark intestine.
The serpent, meanwhile,

Sleeps his meal off in paradise-

Smiling to hear

God’s querulous calling.



Ted Hughes

sábado, março 19, 2011

As fantasias destes gajos

Primeiro foi a tanga. Agora falam em calças na mão. Há qualquer coisa de perversidade fálica nesta converseta do PSD para assim se referir ao zé povinho em estado de plena nudez, traseiro exposto numa pobreza rasteira.

Deve ser por isso que o Portas se perfila avidamente como primeiro ministro.

Coisas estranhas

O Portas diz que vai dar sangue.
Será que o deixam?

sexta-feira, março 18, 2011

Explicação

O Vaticano esclareceu, recentemente  que o Papa Bento XVI não pode doar qualquer órgão após a sua morte, apesar de ter cartão de dador.
A questão é eminentemente simbólica – ninguém no seu perfeito juízo iria colher órgãos de um octogenário doente com graves problemas cardíacos, hipertensão and so on. Papa ou não, nunca seria efectivamente dador - ainda em vida,  os seus orgãos já têm lesões irreversíveis.
No entanto a restrição de um papa ser dador de orgãos é também uma questão eminentemente prática e nada teológica. Um papa é um símbolo, uma espécie de pop star. Imaginem que Elvis Presley tinha doado os seus orgãos - haveria uma alucinada correria para disputar tudo até ser reduzido ao esqueleto.
A julgar pela papolatria que vigora em alguns nichos da cristandade, aconteceria o mesmo com o cadáver de qualquer  papa que se declarasse dador, ainda que centenário e esburacado de velhice.
Aliás é esse o argumento da Vaticano: "Se órgãos do pontífice fossem doados, eles se tornariam relíquias em outros organismos caso o papa seja declarado santo."
E é para impedir estas insanidades, que o Vaticano adopta esta posição.Nada disto significa que a Igreja católica seja contra a doação de orgãos, muito pelo contrário . A Igreja católica é favorável e aprova a doação de orgãos humanos. O próprio teólogo cardeal Ratzinger afirmou publicamente, em 1999, que andava sempre com o seu cartão de dador para encorajar as pessoas a doar órgãos, considerando-o «um acto de amor».



O cavaco enjoa-me

Ouvi enjoada o discurso do Cavaco.Aliás aquele ar de urubu dá-me sempre esta sensação de enjoo.
A juventude dos meus pais foi ensombrada pela guerra do ultramar. Gerações inteiras viveram sob esse medo. Não, ao contrário doq ue diz o Cavaco, os jovens soldados não partiam entusiasmados  com espírito de sacrifício e abnegação.. Partiam porque eram obrigados e não se conseguiam safar.
Mais nada.
De resto, ao vómito cavacal, prefiro este post.

O Suicídio altruísta

Foi muito bem explicado por Durkheim. O sentido gregário e a forte integração no grupo explica porque certos indivíduos se sacrifiquem pela comunidade. O espírito dos Kamikaze continua vivo no Japão, o que explica a imolação voluntária dos técnicos que ainda tentam arrefecer o núcleo das centrais nucleares. Um esforço inglório. Sabemos todos que eles vão morrer  e eles também sabem - em boa verdade já estão mortos - a expressão dead man walking é compatível com os elevados níveis de radioactividade a que estiveram ( e estão ) sujeitos. A nossa admiração por eles é de um pasmo sem nome. São heróis anónimos e quase todos com mais de 60 anos. Condenados à partida, vão simplesmente continuar a trabalhar até que a radioactividade os mate.
Mas atenção , antes que comecem por aí em loas às sociedades superiores em que o indivíduo nada conta  em relação ao todo grupal, com um forte sentido de vinculação comunitária, por oposição aos nossos valores ocidentais centrados mais na Pessoa e no valor do indivíduo, não esqueçam que o Japão é o país do mundo com a  mais elevada taxa de suicídio por habitantes.
A motivação mais funda dos suicidas que tentam salvar as centrais nucleares afogadas em radioactividade é a mesma dos suicidas bombistas  islãmicos, é também  a de todos os mártires religiosos ( católicos incluídos) e dos kamikazes da segunda guerra mundial.
Se a pessoa não tem valor algum quando estão em causa os interesses grupais ( ou divinos) ,  o suicidio é algo de quase banal.
A natureza está à espera, lá fora, mas mantém exactamente a mesma força: recuou, é certo, mas não está sequer prisioneira. Está num outro sítio, num outro ponto da batalha, e afia as lâminas; não reza, não suplica, não pede piedade.

Não reza, afia as lâminas.»


Gonçalo M. Tavares, Aprender a Rezar na Era da Técnica

terça-feira, março 15, 2011

Jornadas Mundiais da Juventude

Vão custar 50 milhões de Euros.
Mas algumas empresas privadas vão lucrar com o evento. São mais de 40 os "produtos oficiais" iguazinhos a qualquer campeonato de futebol ou concerto da Lady Gaga, com preços entre 1 e 30 Euros.
No meio da mais grave crise económica desde a grande depressão que o mundo ( e a espanha) enfrentam.

Dona Salomé

Ora aqui vai um inestimável contributo para os blogues da santinha do Bolhão.

Do mal o menos.

Pacheco Pereira diz que estamos em guerra. Na actual crise económica global  a situação é tão grave como termos uma guerra à porta. De facto, estamos em vésperas de ser invadidos e dizimados em termos financeiros.
Ora em tempos de guerra, qual o político da actualidade que gostaria de ter a governar o meu país?
Um alucinado Portas e os seu narcisismo pacóvio de sede de poder? O meloso do Passos Coelho, que nunca fez nada na vida,  tão facilmente manipulável pela direita do costume? O pasmado cavaco?  O doido do Louçã e a ditadura do proletariado? O pobrezito do aspirante a rei fantoche e a sua isabelinha?
Quem neste país deu provas de resiliência, pensamento estratégico e capacidade de luta pelo interesse nacional ? Com todos os seus defeitos e limitações (e tem muitas), se o meu país está em Guerra, quero ser governada pelo Sócrates.
( Nota adicional - Churchill também não era lá muito amado pelos ingleses -  foi içado ao governo a custo, numa coligação tensa, depois de  anos de ostracismo político no que à esfera do poder diz respeito,e assim que ganhou a guerra perdeu estrondosamentea as eleições, sendo amávelmente chutado do poleiro).

Pois

"Muitos dos que hoje protestaram ( artistas e músicos , por exemplo) encheram os bolsos durante anos à conta de autarquias que agora estão falidas. Muitos do que hoje protestaram - estudantes, por exemplo - andaram anos a exibir, inchados que nem perus, trajes académicos de cursos de fachada que sabiam que eram de fachada."

~
Mar Salgado

domingo, março 13, 2011

P1020128

IMG_3644[1]
IMG_3546[1]IMG_3501[1]
IMG_3452[1]

A joana não está à rasca

Queria falar da Joana. Tem trinta anos, é uma mulher brilhante, trabalha numa empresa multinacional desde que acabou o curso de economia. Trabalha mesmo, não se limita a sacar o salário ao fim do mês.Vive neste momento em Paris e vai casar em Maio, na pequena vila onde nasceu. Filha de uma família problemática de uma zona do interior de portugal, um pai muito violento, a mãe uma vítima de pancadaria. A Joana, cresceu assim, mas desde pequena achou que queria ter um outro futuro. Aluna brilhante desde sempre, Joana foi seguindo os degraus académicos sempre com notas máximas até chegar à faculdade. Nunca teve um computador dela até começar a trabalhar, nem telemóveis, muito menos carros,  mordomias ou traje académico, noitadas e assim. Autocarros, combóios e muitas horinhas a pé, que lá na terrinha onse nasceu só havia ensino básico. No secundário conseguiu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, beneficiou sempre de bolsas de acção escolar. Na Universidade pública, onde entrou com uma média próxima do 20 teve direito a isenção de propinas, bolsa e residência universitária. Tudo patrocinado pelo famigerado estado social, que assim possibilitava a uma jovem  brilhante ter um percurso académico. Consta que poupava tão bem o dinheiro que mandava alguma coisa para ajudar os estudos do irmão mais novo.
Antes de terminar o Curso de Economia já tinha propostas de emprego de empresas multinacionais - os caça cabeças andam por aí a pescar os melhores alunos das universidades portuguesas.
Joana não se aflige nada por trabalhar em paris, há seis anos. Fez estágios intensivos a ganhar o suficiente para sobreviver,  trabalhou com afinco e objectivos. Sabia que só pode contar com ela mesma, nunca teve cunhas ou arranjinhos especiais para ter tachos, pdoe contar apenas com o seu esforço e empenho.
È uma mulher brilhante. Nada enrascada.

à rasca ando eu que pago impostos para sustentar esta malta toda

Acabo de ver o Silva na manif dos enrascados. Foi entrevistado para a SIC.
Ri-me a bom rir. O Silva tem 55 anos e está reformado - muito bem reformado, aliás, professor no topo da carreira da administração pública, onde nunca se esforçou particularmente.
Bon vivant, divorciado, dedica-se agora a "actividades estimulantes", em pleno vigor físico e ( presumo) intelectual de um quinquagenário indigente.
Apareceu na televisão com um lenço dos anos oitenta e cabelo revolucionário. Reclama porque tem de pagar 190 euros para   despesas escolares dos filhos universitários.
E logo ele, um pobre reformado à rasca, que gasta tanto dinheiro em telas, pintura abstracta , vinhos caros e idas a Paris.

A sorte da geração à rasca


Desde sempre há "profissões" que envolvem incertezas laborais. Basicamente todas as ligadas ás artes ou meios artísticos.  Ser "músico " ( o que quer que isso seja) faz parte deste grupo que oscila entre os criativos indigentes e os indigentes nada criativos.
Mas Paula não está satisfeita, por isso foi à manif.  Quer que o Estado arranje um emprego musical ao marido indigente que aos quarenta anos ainda não arranjou emprego fixo.
Bem a pequena Marta tem direito a abono de família,educação gratuita (incluindo rede pré-escolar)   e cuidados de saúde de qualidade totalmente gratuitos até à maioridade.

Eles bem podem protestar, mas sem razão nenhuma.Estão cheios de sorte, garanto-vos eu.

Liberdade é Precariedade

sábado, março 12, 2011

Rad Trads

Mel Gibson, conhecido pelo seu integrismo católico, horror ao concílio vaticano II, aficcion tridentina e  antisemitismo, foi condenado por um tribunal por ter espancado a mulher.

a margarida precária

Encontrei a Margarida à saída do jumbo. Veio cumprimentar-me, bem disposta. Hoje é sábado e está na secção de venda de produtos de jardinagem. Ganha bem, no Jumbo, mais de mil Euros por mês, limpinhos.
A margarida há dois anos que acabou a licenciatura em  Língua e Literatura. Entrou com uma média de 9,5, ou seja, muito a custo e esgotadas outras possibilidades.
 Com esforço foi fazendo as cadeiras. Claro que Bolonha ajuda muito - a maior parte delas foi avaliada com trabalhos medíocres mais ou menos plagiados da net. Mais uns seminários e trabalhos em grupo e a coisa está feita.
A média de saída é quase tão miserável quanto a formação académica da margarida - da última vez que a acompanhei numa tarefa profissional apercebi-me, aterrrada, que praticamente não sabe interpretar um texto. Ou seja, pertence àquele grupo dos analfabetos funcionais licenciados que pululam por aí a exibir diplomas. Conversar com ela sobre literatura é uma experiência extraordinária. A margarida pouco ou nada leu na sua curta vida - e da meia dúzia de  autores que conhece o nome, nunca leu um livro inteiro. Sínteses de obras literárias com sumários e análises "literárias" empacotadas foi o que consumiu na faculdade. Sim, na faculdade, onde se licenciou à pressão, em três anos, com nota mínima. A geração mais bem preparada de sempre e tal.
Margarida não vai à manif dos rascas. Tem mesmo de trabalhar. Os pais são demasiado pobres para lhe aguentar mais uns anos de parasitismo. No Jumbo, no fim do turno lê  a revista caras. Sonha com os vestidos e as passerelles da moda lisboa. Gostava de dar aulas de português, diz-me ela no meio dos bonsais (só a ideia arrepia-me).  Mas nunca leu um livro do lobo antunes , do saramago ou do eça de queiroz, do almeida garrett ou do alexandre herculano. São  uma seca. Já o paulo coelho sim, consegue-se ler , e a florbela espanca que até escreveu um poema para os trovante.
Eu acho que a margarida está muito bem na secção dos bonsai.

geração rasca

"A malta, pá, o povo, pá, apesar de ser "a geração melhor qualificada de sempre", na verdade ambiciona apenas a trabalhar por conta de outrém. Pelos vistos, o empreendedorismo não agrada aos quinhentoseuristas reciboverdistas como opção para escapar à precariedade."

Querem emprego, trabalhar está quieto....

os enrascados

são tão tótós, mas tão tótós,  que até para irem  a uma manif levam o papá e a mãmâ...

quarta-feira, março 09, 2011

Não há futuro para aqueles “estudantes” que nunca leram um livro completo durante todo o curso e se convenceram de que não precisam de aprender mais nada o resto da vida. Ora parece que se encontram nessa circunstância uns 80% dos nossos jovens.


Neste ponto, parece que estamos de facto perante uma das gerações pior preparadas de sempre.

Será que este também vai à manif?

"sou mesmo da opinião que um dos membros do casal não devia trabalhar. Pronto, ok, acho que se fosse a mulher a não trabalhar fazia mais sentido… mas não por um questão machista, mas sim por uma questão natural, da natureza das coisas, quer dizer o homem tem mamas mas não amamenta, tem barriga mas não engravida… embora inche com a idade. E depois ninguém seria obrigado a nada e as coisas seriam feitas suavemente e de comum acordo. O rendimento seria da familia e não do elemento trabalhador e há formas de regular essas coisas… e precaver o futuro de um e de outro.  Apenas acho que mulher interpreta muitíssimo melhor as necessidades das crias do que os homens, que são mais broncos e abestalhados, vá, embora também existam aqueles mais, digamos, sensíveis… O resultado disto era fantástico; se todos os casais participassem no mono-trabalho, o desemprego cairia subitamente; aliás, o problema seria o inverso, sem um dos elementos de cada casal no mundo do trabalho, seriam precisos novos trabalhadores. Ora havendo falta de trabalhadores, a disputa pelos existentes far-se-ia a troco de melhores salários; Isto é, a quebra de emprego e de salário de um dos elementos do casal não significaria uma quebra de receitas do casal, pelo contrario. Ainda, resultaria a necessidade da sociedade precisar de mais gente, propiciando, olha que giro, o amor conjugal, gerando mais filhos… com a vantagem de um deles, o pai ou a mãe nos casais tradicionais, ou o pai ou o pai, ou ainda a mãe ou a mãe nos casais homossexuais, poderem acompanhar os seus filhos no dia-a-dia."

http://blog-blogbuster.blogspot.com/

Ligação directa

"Falar em reformas depois de ter estado mais de uma década no poder como primeiro-ministro e após cinco anos em Belém, falhando as reformas de que o país nessa altura, como hoje, carecia, deixando-o envolto em sombras, escândalos e entregue aos BMW do bloco central dos interesses que geraram os BPN e BPP da nossa desgraça recente, para vir agora fazer um discurso como o que produziu, deixa antever o pior. Ignorar o que aconteceu em Wall Street, na Irlanda ou na Grécia, revela a existência de uma agenda própria. E falar em transparência do Estado e das instituições é de quem já se esqueceu do caso das escutas, da protecção aos amigos e da falta de esclarecimentos sobre os negócios em que andou metido com Oliveira e Costa e o clã da Coelha. Pagar impostos todos pagamos, mas nem todos o conseguem fazer pelas razões que ele o fez, mesmo que o quisessem. "

O cavaco também vai à manif rasca

E leva uma máscara laranja.

ìcones gays

S. Sebastião, naturalmente. Assim o retratou El Greco, no auge do esplendor homoerótico:

Já o nosso efeminado D. Sebastião embora parco em beleza ou inteligência também é adorado pelos monárquicos gays.

Homens da Luta - Miguel Sousa Tavares critica (Manifestação da Geração à...

Enrascada

Disseram-me agora que umas centenas de professores do secundário cinquentões e no topo da carreira se vão associar aos infantes rasca.
Divertido.

Restolho

Venham prá rua gritar, assim proclamam os lideres da geração rasca, os homens da luta que até vão à eurovisão uma caricatura do PREC
 Entretanto, os novos do restelo revelam "o sentir da Mocidade" ( portuguesa,por supuesto), pobres tontinhos e vão concerteza à manif dos comunas.
Vai ser divertidíssimo ver  os bloquistas militanttes a vozerar lado-a-lado ( ou frente-atrás ou frente-a-frente, and so on) com os nazis tugas.
Uma verdadeira porno -  enrascada.

Latinices

O velho tridente  adora derivações latinas .
Nada o estimula mais que um felatio bem soletrado entre cantos gregorianos.

Caniches

O velho passa tardes obscenas no café do bairro a falar de gajas, de putas  e a gastar a reforma que conquistou em macau a chular chinocas. Ele é que fala assim, dos chinocas e das chinocas e da * sua asquerosa alma que fede até à unha em crescente do dedo mindinho, cara curtida de sol e ar marcial.
Cada mulher que passa a alarvidade cresce. Acompanha-o um caniche envelhecido igualmente castrado.

Mães

Em certos países do oriente, há um estranho costume para celebrar as mães.
Nesse dia, todos os que ainda têm mãe viva, crianças, adolescentes, jovens , adultos, e até alguns afortunados velhos,  usam uma flor vermelha na roupa, numa garridice festiva. Aqueles cuja mãe já morreu colocam uma flor branca, e assim, nesse dia, a multidão que circula pelas ruas carrega no corpo o estranho destino da orfandade partilhada ou a euforia da mãe presente, contagiada em risos festivos e piscadelas de olhos.
Um turista acidental, a quem colocaram um raminho com uma flor branca ao pescoço, primeiro pensou que fosse um gesto qualquer de boas vindas. Depois explicaram-lhe que era um costume local, e que atendendo à sua idade, o tinham presumido orfão. Ao andar na rua a tropeçar em tantas outras flores  brancas , nos olhos arregalados de dó que convergiam numa estranha irmandade, crianças de colo, miúdos esgalgados de olhar parado, mulheres prenhas de flor branca no corpete, homens enrugados de branco, e em todos a mesma solidão sem termo, o mesmo ar embasbacado de quem foi largado no mundo, a morte definitiva da solidão maior, chorou desesperadamente, do alto dos seus setenta anos.

Nunca em toda a sua vida sentira tanto a falta da  mãe.

quinta-feira, março 03, 2011

Dúvida

Se alguém visita o meu humilde blogue quatro a cinco vezes por dia e numa só visita gasta 42 minutos, devo preocupar-me?

Irritantes

De vez em quando, de uma forma esquisista que merecia  vários estudos sociológicos, há expressões de linguagem completamente sem sentido  que surgem do nada e se começam a propagar como uma qualquer doença contagiosa.
Depois do irritante "então boa continuação", agora somos bombradeados todos o dias com a expressão "derivado de ", em vez de "devido a ".
Já nem falo do "sendo que", usado a torto e a direito como muleta discursiva.

Previsível

A política rasca apoia a geração rasca.

O fim do antisemitismo católico

Demorou dois milénios. Bento XVI, no seu novo livro acaba definitivamente com a doutrina da culpa do povo judeu pela morte de jesus, de acordo  aliás com a tradição do Concílio Vaticano II e com o texto conciliar Nostra Aetate .

terça-feira, março 01, 2011

a misoginia é uma religião

Aparentemente não há um fio condutor entre   esta notícia e os discursilhos antifeministas militantes.
Mas só aparentemente.
O ódio pelas mulheres pode ter várias formas,do consumismo fútil ao diletantismo intelectualóide desqualificador, do desvario religioso até à violência mais obscena que aterroriza.
Digamos que o que varia é o grau e a intensidade da violência. Os pressupostos ideológicos e o quadro conceptual  sobre o (des)valor do mulherio é basicamente o mesmo - coisificar-(des)humanizar, reduzir.

os excomungados herdeiros de lefebvre

Excomunhão significa antes de mais não estar na comunidade - manter-se fora de .
Bernard Fellay, líder da Sociedade de São Pio X, que reúne os seguidores do arcebispo francês Marcel Lefebvre, que em 1988 ordenou quatro bispos sem autorização papal e morreu excomungado, disse que os diálogos de seu grupo com a Santa Sé  iriam "chegar a termo sem um acordo de reconciliação com a Igreja".  A 02 de Fevereiro, numa entrevista, Fellay, um dos quatro bispos ordenados por Lefebvre disse que o diálogo com a Santa Sé não tem sido capaz de convencer os representantes do Vaticano do retorno à Igreja de antes do Concílio Vaticano II.
Quando questionado sobre se  a aceitação do Vaticano II seria um  "um obstáculo intransponível", Fellay responderu  que "para nós, em qualquer caso,  sim". Outro facto que está a provocar grande agitação nas hostes tridentinas e a fazer reemergir as teses sedevacantistas do grupo é o Encontro de Assis marcado pelo Papa para Outubro próximo.
Em suma - as conversações dos lefebvristas com o Vaticano estão a chegar ao fim sem qualquer resultado prático, mantendo-se o cisma destes com a igreja católica.