quarta-feira, julho 30, 2008

Platero e eu

Fiquei comovida ao encontrar o Daniel. Primeiro, por ele ter inventado um canil bloguístico, o que me fez sorrir da coincidência. Depois, pela poesia que bebi ao fim do dia, como algo de absolutamente inesperado, de tão límpido. Alguns textos apeteceu-me ficar a mordiscá-los noite fora até adormecer e sonhar com cães na água. Ainda por cima, alguns poemas lembram-me rostos antigos e cidades velhas.

Quem me dera escrever assim.

As Mães, mas nem Todas


"As mães viram-se do avesso para que sejamos. Elas fizeram aquela coisa com algum homem.Esperamos todos que se não tenham despido todas. Que o suplício lhes tenha sido breve, já que não leve. As mães andam na rua e nunca mais foram as mesmas.Elas animam o comércio e as janelas como vasos comunicantes.Se não fosse por elas, nenhuma guerra nos faria voltar.Voltamos e alguém no-las levou, manhã cedo.As mães participam de coisas para além da física-química.As que fumam, vêm ao quintal contar as estrelas nocturnas do verão.Têm todas cauda, todas são caudalosas, manam como rios longose muito estreitos, como a angústia na etimologia primeva.As mães prevêem a chuva com uma pedra na mão.Elas andam com fotografias cor-de-cinza nas carteiras encarnadas.Não têm tempo para olhar os barcos em maio, lá onde dormem.Querem dizer-nos algo e a voz não lhes desce da garganta.As mães são a única sombra das savanas.Elas bordam teias que emaranham fábricas desactivadas, estações de tratamento de águas e resíduos, elas sãoos bichos-da-seda casulados nas carruagens ferroviárias.As mães são os cavalos menos ilusórios do monte.Dá-lhes o vento na cor e elas correm, as caudas gráficasempinadas de uma mocidade fibrosa, aerodinâmica, retratista.Apartam o sal e a merda, as flores de comer e os cheiros do corpo.As mães nunca iludiram a polícia nem os médicos. Elas exercem a partir de ministérios invisíveis ao sol.Só dão de si quando a prata lunar se torna refractária. E digitam de cor os mapas da fruta, entre cheias de inverno.As mães podem nunca ter voltado das mães delas. Cruzes de fogo bermam delas os caminhos montanhosos. Elas contam raposas onde vêem lobos: nos leitos das filhas e das mães delas. As mães são territórios para uma altanaria de galgos.Folheiam as latas do lixo para que nós enciclopédias.As mães desfloram as santidades mais corruptas.Mas nem todas são putas."

segunda-feira, julho 28, 2008

Uma pessoa deve viver consigo própria como se vivesse com uma multidão inteira.
E, interiormente, uma pessoa aprende a então a conhecer todas as boas e as más características da humanidade. E uma pessoa deve aprender a perdoar os seus próprios defeitos, se quer perdoar aos outros.

Etty

sexta-feira, julho 25, 2008

Brasil

Fica aqui o suspiro. Sem mais.

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.

E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
(...)

Alberto Caeiro

quinta-feira, julho 24, 2008

Metissages

Mestiçagem é, em primeiro lugar, uma experiência – da desapropriação, da ausência e da incerteza que pode brotar de um encontro, o que traduz uma condição muitas vezes dolorosa de “afastamento do que se é” para mergulhar no futuro imprevisível do mistério do outro e dos outros. A noção de mestiçagem, seja aplicada a pessoas, ou a pensamentos, cultura ou arte, é sempre uma condição de algo em movimento, sendo o nomadismo e a metamorfose os seus símbolos privilegiados e a desapropriação, como mediação entre a familiaridade e o estranhamento, o seu estado natural.

A banalidade do mal

"Duas crianças ciganas, de 11 e 13 anos, morreram na praia de Torregaveta, perto de Nápoles. E o que causou espanto nas pessoas mais normais foi que, contrariamente ao que seria de esperar, praticamente nenhum banhista se incomodou e continuou, com as duas crianças mortas o seu dia normal de lazer. Os banhistas indiferentes continuaram a apanhar Sol, a jogar à bola e a petiscar no bar da praia, a poucos metros dos cadáveres.
Via Arrastão

A sacralidade do corpo

O Eu como Pessoa é apenas um corpo que se diz Eu.
Daí que a solidão, sempre analógica (só há solidão porque vivemos obrigatoriamente em sociabilidades)é antes de mais uma ruptura de identidade, o esquecimento do corpo.
A solidão é o abandono do corpo, das vísceras, da pele, dos olhos, da palavra.
Pode-se morrer de solidão?
Os estudos epidemiológicos reportam que sim.

Sem férias ainda

Sem férias, o trabalho entra pelo verão adentro.
Em SEtembro estarei dividida entre Oslo e Praga.
Em Novembro mais um projecto inovador, desta vez com Idosos na zona mais pobre da cidade.
Entretanto terei de ponderar se consigo publicar o livro.

quinta-feira, julho 17, 2008

o estado do mundo



se é isto o que fazem com um cidadão canadiano, imaginem com os outros

Paris vale bem uma Missa

Confesso – nuca “assisti” a uma missa tridentina. Em parte porque o rito já tinha sido abandonado quando comecei a ir à missa, em parte porque não domino o latim, em parte porque me parece que a missa, ou Eucaristia, parafraseando alguém, não se pode transformar num acto de Voyeurismo sacro, como parece que alguns pretendem.
Entretanto uma alma caridosa decidiu enviar-me uma missa tridentina, para estimular a minha veia piedosa e me converter das heresias. E com a indicação de que assistir à missa no youtube
tem o mesmo valor que assistir á missa na TV , e portanto iria assistir a um sacrifício em directo on line.Pareceu-me uma modernice descarada vinda de quem vinha, os puristas medievos antitecnologias, mas pronto.
Fiquei com a impressão de que para alguns tridentinos, a encenação é algo de mórbido, e um bocadinho próximo dos smuff movies, mas lá me esforcei.
Bem - confesso que não consegui assistir até ao fim. Fiquei com demasiado sono – e compreendi melhor porque é que chamavam à cerimónia o santo sacrifício incruento. È realmente um sacrifício. Que poucos são capazes de aguentar. Quanto ao resto, à parte de ser completamente ininteligível devido ao latim ( poderia ser em chinês ou em lárabe, seria o mesmo efeito) achei piada à coreografia dos homens no altar, aos beijinhos nas mãos trocados entre eles, ao número ritualizado de genuflexões sincronizadas ( uma espécie de aeróbica sacra) e à imensa profusão de incenso e incensadelas capaz de provocar ataques de asma aos mais susceptíveis, sobretudo tendo em conta os bocejos irreprimíveis durante o cerimonial.
Ficou-me outro pormenor que achei encantador, mas muito pouco de acordo com a circunspecção tradicionalista – as vestimentas profusamente rendadas e coloridas dos padres, em tons fulgurantes de dourados e com flores vivas. Muito gay.

Medos

È Violento, o machismo?
Sim. Na sua forma mais óbvia e sangrenta, aos pequenos trocadilhos do quotidiano sobre as mini saias e as pernas das mulheres, ou sobre inevitável frivolidade maligna do feminino. Tudo isso foi esgotado na discussão do referendo.
Não é à toa que se tecem comentários idiotas sobre as pernas das mulheres-objecto e se compara ao mesmo tempo o acto de abortar à escolha de um vestido. Azul, claro, versão floriibela, boazinha, mas muito pobezinha e muito trabalhadeirazinha e muito tontinha.
Como diria o Ricardo Araújo, no seu brilhante sketch do Marcelo, Vou ao cinema, não há bilhete, olha, vou ali abortar. Ou comprar um telemóvel, como diria o outro.
São assim os machistas.
Não têm útero, nem fisiológica nem simbolicamente. E, mesmo que o tivessem ( que o machismo não é exclusivo de machos), não saberiam como usá-lo nem o significado de gerar e parir.
O que os preocupa, aos amputados de útero?
Uma única coisa – que as mulheres possam escolher.
O medo das mulheres, da sua escolha, da sua liberdade, do seu poder.
Não há nada de mais violento e machista do que a observação alarve sobre a necessidade de impedir que uma mulher possa escolher.

Da Tradição

FNAC, Porto, no meio de livros, música e um café. O ambiente é distendido, acolhedor mesmo, nada de verdadeiramente assombroso se passa no mundo, com jazz à nossa volta.
O telefonema atordoa-me. È das Canárias e uma voz querida, com uma terrível perturbação e um cansaço que se sente em cada palavra, lembra-me dessa realidade aqui ao lado. Uma nova vaga de imigrantes oriundos de África ( a maior parte do Senegal) chegam em barcos minúsculos e ridículos. Chegam os cadáveres, crianças, corpos desidratados, hipotermia, tifo, tuberculose, sida, em vagas que não param, nós nesta Europa cada vez mais fortificada onde batem as vagas dos esfaimados do mundo, a construir "campos" de refugiados, campos de famintos, a toda a volta par que não entrem, rusgas que já nem são rusgas, são uma espécie de salvamento internacional feito por polícias perplexos, contam-me que nas Canárias, a crianças nas escolas, em vez de desenharem o pai natal, desenham corpos estropiados nas praias, homens a rodos de olhar esbugalhado que fitam os salvadores, nós no nosso conforto doméstico preocupados com aquelas rotinas sociais que pensamos que fazem o mundo funcionar, mas não fazem, o que faz o mundo funcionar ( ou desmoronar-se) é o desespero de crianças metidas em pirogas, com remos ridículos para enfrentar o alto mar, sem roupa sequer para os proteger, sem comida, sem água, sem nada que não este olhar do mais absoluto desespero, vazio das lembranças da fome, vou-te mandar mais fotografias pelo TMV, não os mostres às crianças, não percebo porque não se fala mais disto, é uma catástrofe. E aqui estou na FNAC, no Porto, enquanto mais botes chegam às Canárias e corpos de crianças são atirados borda fora.

sábado, julho 12, 2008

Rainha Santa Isabel

O culto de uma figura feminina apropriada sobretudo pelos pobres, pelas mulheres e pelas crianças repercute algo de matricial na nossa religiosidade popular - o culto da feminilidade e os rituais de fertilidade. A quase coincidência entre a procissão da rainha santa - a nossa, como dizem algumas pessoas – e as manifestações marianas como fátima , não são coincidências.
Neste caso, mais uma vez, adora-se ritualisticamente uma jovem mulher em que o milagre simbólico foi o de dar aos pobres pão em vez de rosas. Há uma simbologia poética neste milagre das rosas, que aliás não é inédito na iconografia medieval europeia.
Mas Isabel de Coimbra não foi amada pelos pobres apenas pela sua bondade e generosidade. Foi amada por a saberem vítima de um marido violento, que a tentou confinar e sobretudo por ter tentado a todo o custo mater a paz entre um pai e um filho e suster uma guerra civil num país de que só foi rainha por acaso.
Rezam as crónicas que ao saber eminente uma batalha entre o rei e o seu filho, Isabel montou a cavalo e foi colocar-se entre as tropas prestes a combater.Para se engalfinharam e teriam de passar pelo seu cadáver.
Esta atitude extraordinária de uma mulher medieva (quando, segundo os padrões do tempo, deveria era estar era em casa a rezar tercinhos pela paz do reino) fez dela uma verdadeira rainha e rendeu o coração dos homens armados.
O poder feminino contra o poder das armas.

quinta-feira, julho 10, 2008

Há dias assim

começar o dia é sempre algo de delicado.

à frente, uma lista de tarefas.

por detrás de cada tarefa está sempre um grupo de pessoas.

um grupo de sonhos, de esforços e expectativas.

são assim os dias

redes de pessoas que se entretecem

Solidão

A solidão é sempre analógica

dou por mim a inquietar-me com a ana. já terá parido o filho?

desejo-lhe analgesia eficaz , agonias breves e a doçura do primeiro beijo sobre a penugem sanguinolenta de uma nuca de recém-nascido.

sempre achei que qualquer mulher que vai parir um filho tem qualquer coisa de divino e que o sofrimento das mulheres, tão inútil quanto invisível , as redime automaticamente de todo o mal e de todo o bem.

uma mulher a parir está para além do bem e do mal, é a origem do mundo.

tudo lhe e permitido, tudo lhe é perdoado, tudo lhe é devido.

as mulheres devem de facto ser adoradas por isso.

agora e para todo o sempre

Àmen.

terça-feira, julho 08, 2008

Folheei o livro de Alfredo Bruto da Costa sobre a pobreza em Portugal. . A «fragilidade» estrutural da sociedade portuguesa ressalta bem evidente no estudo longitudinal da pobreza em Portugal. Com efeito, durante pelo menos um dos anos do período entre 1995 e 2000 passaram pela pobreza 46% de portugueses.

Entre os 27 países membros da União Europeia, Portugal é o que tem as maiores desigualdades sociais, havendo cerca de 1 milhão de portugueses a viver com menos de 10 euros por dia, 67 por cento dos "sempre-pobres" vivem em zonas rurais ou aldeias.

Entre 1995 e 2000 mais de metade (54 por cento) das crianças e jovens com menos de 17 anos "experimentaram a pobreza em pelo menos um dos seis anos em estudo". Ou seja, viviam integrados em famílias com rendimentos ou recursos abaixo do limiar de pobreza.

nem sempre compreendemos o murmúrio dos nossos passos.

Modernismo


É um dos meus quadros preferidos de Dali. Pelas cores, pela organização do espaço, pelo subentendido na janela esventrada para o mar, pela mulher debruçada na infinitude.
Belíssimo.

Muchacha en la ventana (la hermana del artista), 1925


Oil on board105 x 74,5 Reina Sofía National Museum, Madrid

Modernismo - da beleza em estado puro

Russian Village under the Moon, 1911
Oil on canvas Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Munich, Germany
Mais obras de Chagal no Século Prodigioso

sábado, julho 05, 2008

Deus


Vou ajudar-te Deus, a não me abandonares, apesar de não poder prometer nada com antecedência. Mas torna-se cada vez mais claro o seguinte: que tu não nos podes ajudar, que nós é que temos de te ajudar e, ajudando-te, ajudamo-nos a nós próprios.
(...) Frequentemente é como se eu visse este tempo como uma parte da História, da qual consigo já ver o princípi0 e o fim , e que também sei "ordenar" num todo. E estou grata pelo seguinte: por não sentir a menor amargura ou o menor ódio, mas por sentir uma grande impassibilidade, que não é rsignação, em mim, mas também uma espécie de entendimento destes tempos, por mais estranho que isso possa parecer.
(....) Claro, é o extermínio total, mas suportemo-lo com graciosidade. Não existe um poeta dentro de mim, há sim um pedaço de Deus em mim que poderia desenvolver-se até se tornar um poeta. Num campo ( de concentração) assim tem de haver contudo um poeta que experiencie a vida la, lá também..."
Etty Hillesum , 1942
Campo de Concentração

sexta-feira, julho 04, 2008

Mi mesa no es la de un medium de sortilegios, ni la de un mago hipnotizador. Tampoco es una mesa donde sacrificar animales como en las religiones primitivas. Mi mesa es de comedor: para partir, repartir y compartir. Partir pan, compartir vida, repartir gratuidad, impartir esperanzas...Por tanto, ni cerréis los ojos, ni os quedéis hipnotizados. Tras mirar al cielo dando gracias, mirad a vuestro alrededor, como hice yo en el campo de Galilea y en la última cena. Lo que quiero que hagáis, para hacerme presente a mí entre vosotros cuando os reunáis en mi nombre, es lo que yo hice: partirse, repartirse y compatir. Partid el pan, repartid a quien no tiene, compartid la vida, la fe y la palabra. Haciéndolo así sois la única prueba de que yo estoy vivo”

Curso básico de racismo y de machismo

"Los subordinados deben obediencia eterna a sus superiores, como las mujeres deben obediencia a los hombres. Unos nacen para mandones, y otros nacen para mandados.
El racismo se justifica, como el machismo, por la herencia genética: los pobres no están jodidos por culpa de la historia, sino por obra de la biología. En la sangre llevan su destino y, para peor, los cromosomas de la inferioridad suelen mezclarse con las malas semillas del crimen. Cuando se acerca un pobre de piel oscura, el peligrosímetro enciende la luz roja; y suena la alarma."

Um post que gostaria de ter escrito

"Também entre os/as católicos/as portugueses/as, a palavra "feminismo" é uma "palavra malvada" como lhe chamou Elza Pais. Também entre os/as católicos/as, as lutas contra a infantilização social das mulheres são consideradas excentricidades, "coisas radicais" e sem sentido. E, no entanto, o feminismo não é senão uma indignação contra o profundo défice democrático que se traduz na menorização das mulheres. A pergunta é, pois, muito clara: que ordem social defendem os/as cristãos/ãs - a democracia ou a oligarquia?"

José Manuel Pureza

Esperança

Um Nobel da Medicina escreveu que é imperioso ver o invisível para fazer o impossível. É preciso ver para além do que se mostra. Há demasiada realidade na penumbra para que a possamos esquecer. Somos muito mais ignorantes do que alguma vez pudemos pensar. E resignados também. Fazer os possíveis é pouco mais do que perpetuar o que está.

É cada vez mais o impossível que nos é pedido.

José Manuel Pureza

Goebbels dizia que quando lhe falavam de cultura, levava logo a mão ao revólver.

Psiquiatria on line

Não sei porquê, mas a internet tem destas coisas. Nomes sugestivos. E sites onde a perturbação psiquiátrica grassa de forma doentia. Blogues de incitamento a desvios comportamentais, como a anorexia, a automutilação ou o suicídio.Pessoas que ao abrigo da virtualidade revelam as suas taras mais perversas, 'inda que disfarçadas de princípios morais ou valores religiosos. Incitamento à violência, iliteracia, ameaças de morte, lixo nazi, tudo misturado com rezas em latim. As pulsões à solta sem controle social, insight ou sentido crítico.
Cegos que fingem ver, iletrados que se dizem peritos, tarados que advogam uma moral conservadora, adultos predadores que circulam no Hi5, psicóticos com delírios, exibicionistas, um autêntico Salpêtriére antes de Pinel.
Diz a OMS que as doenças mentais serão nas próximas décadas uma das principais causas de morbilidade. A net é bem o espelho desta tendência.